No Reino de Deus não existe miséria. A proposta do projeto divino é
abundância para todos. Vida em abundância para todos. Quando as graças
de Deus se derramam, elas não vêm em conta contas, mas em enxurrada.
Isso porque, Deus é misericordioso e compassivo. Sua bondade não tem
limites. Essa é a boa notícia que ouvimos na Liturgia da Palavra desse
XVIII Domingo do Tempo Comum.
O profeta Isaias (Is 55, 1-3) faz ressoar o
convite de Deus para entrar na sua tenda e participar do banquete que
Ele oferece. Não é preciso levar dinheiro. Os favores de Deus são
gratuitos. Não é preciso pagar nem devolver o favor, pois o convite
divino é motivado pelo amor, não é interesseiro. E sua oferta não é
parca, nem impõe condições. Basta aceitá-lo como Deus é: misericordioso,
compassivo, bondoso, amoroso e paciente para com todos (Salmo 144).
A universalidade do amor divino é a senha para se entrar na sua
presença. O convite feito pelo profeta não exclui ninguém. A proposta
que Deus faz é universal. Para todos sem exceções. Sua gratuidade é
ilimitada. Recusar-se a aceitar esse princípio e voltar as costas ao
irmão, também ele convidado de Deus, torna impraticável a participação
no banquete na Tenda de Deus. Mas, quem aceitar as características dessa
graça, que espelham Aquele que a concede, então encontrará satisfação
completa.
Todavia, um olhar atento ao mundo perceberá que há miséria em muitos
cantos. Falta o pão em muitas mesas. Famílias não satisfazem nem ao
menos a fome de cada dia. Onde está Deus e sua promessa de abundância? E
quando nos falta saúde, faltam paz e consolo e sobram dúvidas,
intranqüilidade e medo, não nos parece falsa promessa as palavras do
profeta?
Se Deus é gratuito em seus dons, nós também somos convidados a amá-lo
sem esperar algo em troca. É o que São Paulo (Rm 8,35. 37-39)
deixa claro com o testemunho de São Paulo. Se a abundância de graças nos
mostra que somos favorecidos por Deus, será a privação que nos separará
de seu amor? Nossa fidelidade a Deus é comparável à união esponsal: na
alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na
abundância e na privação. É fácil amar quando tudo vai bem. Os
verdadeiros amigos se revelam na fidelidade em momentos difíceis.
Aqui cabe uma reflexão sobre o Dízimo. Aprendemos que Dízimo é
devolução, pois tudo pertence a Deus. Desse modo, não estamos fazendo um
favor a Deus ou a sua Igreja. Estamos cumprindo com nossa obrigação.
Estamos dando algo que não nos pertence. Então como entender que alguém
pregue prometendo a abundância das dádivas divinas para quem abre a mão
para dar o Dízimo? Esse deve ser um ato de amor e gratuidade. Não se
trata de uma troca. Não é um investimento no presente esperando obter
bons resultados no futuro. Deve ser um ato de doação gratuita e
reconhecimento em resposta do amor já manifestado por Deus em nosso
favor. Ninguém pode fazer afirmações colocando-se no lugar de Deus
dizendo coisas como “dê o Dízimo e nada faltará em sua vida”. Mas,
quando sofremos privações, deveremos entender que fomos desprezados por
Deus? Estamos sujeitos às doenças e carestias de todo tipo nesse mundo. A
morte é uma realidade que nunca nos abandona. E isso não significa que
fomos abandonados por Deus. O Dízimo deve ser um ato de gratuidade.
Saibamos receber as dádivas divinas com humildade e gratidão. E saibamos
suportar as privações. Para São Paulo, assim como para nós, o que
jamais pode faltar é o próprio Cristo. E basta-nos estar unidos a Ele.
No Evangelho (Mateus 14,13-21) ouvimos a narração da multiplicação
dos pães. Alguns detalhes da narrativa são bastante edificantes. Um
primeiro elemento a se ressaltar é a gratuidade do gesto de Jesus
curando os doentes. Apenas movido pela compaixão. Nenhuma imposição de
valores, nenhuma exigência moral, nenhuma cobrança ou pedido de
retribuição. Curou-os simplesmente porque estavam doentes.
Um segundo ponto importante é a ordem de Jesus “daí-lhes vós mesmos
de comer”. O Divino Mestre dava uma missão a seus discípulos.
Referindo-se ao pão, que haveria de multiplicar em seguida, Jesus
mandava sua Igreja distribuir o pão da Eucaristia e o pão da caridade. E
a Igreja deverá fazê-lo movida pela mesma compaixão de seu Senhor. Pela
mesma atitude de gratuidade e satisfação em fazer o bem. Com a mesma
abundância, sem jamais negar-se a entregar-se a si mesma em sacrifício
para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Com o Dízimo, em
sua dimensão social, cumprimos essa ordem de Cristo, a fim de distribuir
o pão a quem tem fome, de modo que não haja necessitados entre nós.
Afinal, Deus deu em abundância, os meios para que todos tenham o
necessário para uma vida vivida com dignidade.
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