segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A gratuidade do amor a Deus e ao próximo!

No Reino de Deus não existe miséria. A proposta do projeto divino é abundância para todos. Vida em abundância para todos. Quando as graças de Deus se derramam, elas não vêm em conta contas, mas em enxurrada. Isso porque, Deus é misericordioso e compassivo. Sua bondade não tem limites. Essa é a boa notícia que ouvimos na Liturgia da Palavra desse XVIII Domingo do Tempo Comum.

O profeta Isaias (Is 55, 1-3) faz ressoar o convite de Deus para entrar na sua tenda e participar do banquete que Ele oferece. Não é preciso levar dinheiro. Os favores de Deus são gratuitos. Não é preciso pagar nem devolver o favor, pois o convite divino é motivado pelo amor, não é interesseiro. E sua oferta não é parca, nem impõe condições. Basta aceitá-lo como Deus é: misericordioso, compassivo, bondoso, amoroso e paciente para com todos (Salmo 144).

A universalidade do amor divino é a senha para se entrar na sua presença. O convite feito pelo profeta não exclui ninguém. A proposta que Deus faz é universal. Para todos sem exceções. Sua gratuidade é ilimitada. Recusar-se a aceitar esse princípio e voltar as costas ao irmão, também ele convidado de Deus, torna impraticável a participação no banquete na Tenda de Deus. Mas, quem aceitar as características dessa graça, que espelham Aquele que a concede, então encontrará satisfação completa.

Todavia, um olhar atento ao mundo perceberá que há miséria em muitos cantos. Falta o pão em muitas mesas. Famílias não satisfazem nem ao menos a fome de cada dia. Onde está Deus e sua promessa de abundância? E quando nos falta saúde, faltam paz e consolo e sobram dúvidas, intranqüilidade e medo, não nos parece falsa promessa as palavras do profeta?

Se Deus é gratuito em seus dons, nós também somos convidados a amá-lo sem esperar algo em troca. É o que São Paulo (Rm 8,35. 37-39) deixa claro com o testemunho de São Paulo. Se a abundância de graças nos mostra que somos favorecidos por Deus, será a privação que nos separará de seu amor? Nossa fidelidade a Deus é comparável à união esponsal: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na abundância e na privação. É fácil amar quando tudo vai bem. Os verdadeiros amigos se revelam na fidelidade em momentos difíceis.

Aqui cabe uma reflexão sobre o Dízimo. Aprendemos que Dízimo é devolução, pois tudo pertence a Deus. Desse modo, não estamos fazendo um favor a Deus ou a sua Igreja. Estamos cumprindo com nossa obrigação. Estamos dando algo que não nos pertence. Então como entender que alguém pregue prometendo a abundância das dádivas divinas para quem abre a mão para dar o Dízimo? Esse deve ser um ato de amor e gratuidade. Não se trata de uma troca. Não é um investimento no presente esperando obter bons resultados no futuro. Deve ser um ato de doação gratuita e reconhecimento em resposta do amor já manifestado por Deus em nosso favor. Ninguém pode fazer afirmações colocando-se no lugar de Deus dizendo coisas como “dê o Dízimo e nada faltará em sua vida”. Mas, quando sofremos privações, deveremos entender que fomos desprezados por Deus? Estamos sujeitos às doenças e carestias de todo tipo nesse mundo. A morte é uma realidade que nunca nos abandona. E isso não significa que fomos abandonados por Deus. O Dízimo deve ser um ato de gratuidade. Saibamos receber as dádivas divinas com humildade e gratidão. E saibamos suportar as privações. Para São Paulo, assim como para nós, o que jamais pode faltar é o próprio Cristo. E basta-nos estar unidos a Ele.



No Evangelho (Mateus 14,13-21) ouvimos a narração da multiplicação dos pães. Alguns detalhes da narrativa são bastante edificantes. Um primeiro elemento a se ressaltar é a gratuidade do gesto de Jesus curando os doentes. Apenas movido pela compaixão. Nenhuma imposição de valores, nenhuma exigência moral, nenhuma cobrança ou pedido de retribuição. Curou-os simplesmente porque estavam doentes.

Um segundo ponto importante é a ordem de Jesus “daí-lhes vós mesmos de comer”. O Divino Mestre dava uma missão a seus discípulos. Referindo-se ao pão, que haveria de multiplicar em seguida, Jesus mandava sua Igreja distribuir o pão da Eucaristia e o pão da caridade. E a Igreja deverá fazê-lo movida pela mesma compaixão de seu Senhor. Pela mesma atitude de gratuidade e satisfação em fazer o bem. Com a mesma abundância, sem jamais negar-se a entregar-se a si mesma em sacrifício para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Com o Dízimo, em sua dimensão social, cumprimos essa ordem de Cristo, a fim de distribuir o pão a quem tem fome, de modo que não haja necessitados entre nós. Afinal, Deus deu em abundância, os meios para que todos tenham o necessário para uma vida vivida com dignidade.