domingo, 30 de março de 2014

Exercícios da Quaresma

Estamos no período da Quaresma, tempo litúrgico, em que a Igreja nos convida para um de exame de consciência e conversão. Claro que todo tempo litúrgico é tempo de conversão e não somente no período que se estende entre; a quarta feira de cinzas e o domingo de ramos, mas este tempo, é para nós católicos, mais forte ao clamor: " Completou se o tempo e Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho." (Mc 1,15) Mas toda ação e convite da Igreja, para este tempo, deve estar permeado do desejo interior e sincero à busca continua do “novo homem”, através de atitudes exteriores, que remetem à um interior convertido, a conversão não é somente um processo de novos costumes, mas uma atitude de vida, que vêm do interior.

“Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos”. (Tobias 12,8)
Todas ás praticas, recomendas pela Igreja neste “tempo”, possuem um dimensão de reconciliação, e busca continua do desapego, ao que feri a unidade do ser com o Criador, e com as criaturas.
 Jejum

A prática do jejum, abstinência do alimento, tão recomenda em diversos trechos do AT e NT, e sempre aconselhado pela Igreja, como uma prática de mortificação e piedade, com muitos frutos aos cristãos, é um conselho à reconciliação consigo mesmo, tem a dimensão de nos educar e a sermos “senhores” de nós mesmos. Esta prática deve esta permeada do sincero apelo à mudança de vida, pois não se trata de somente uma atitude exterior, pois seria condenável. “Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz." (Isaias 58,4) ou ainda “Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo.” (Isaias 58,6)
 
O jejum tem como sua finalidade o desejo sincero de não sermos escravos dos sentidos, mas em entender que existe um sentido maior, em tudo, e que as paixões humanas não nos escravizam, pois buscamos o domínio de nós mesmos, nos penitenciando. 
De que jejum estamos falando? Ficar sem comer? O jejum é mais do que o deixar a refeição, ele tem como um ato concreto o não se alimentar, mas é maior do que a privação do alimento, pois o fruto é a busca daquilo que é imperecível, o Bem maior. Existem diversas formas de jejum, que juntamente com a privação do alimento, são convites à conversão, pois, ficar sem a comida e o único fruto disto, for à dor de cabeça, no final da tarde, seria uma prática somente externa, é necessário o jejum constante, o de sempre, daquilo que nos corrompe, nos impede o seguimento e a proximidade conosco e por isso com Deus, no nosso interior, no palácio Real do nosso coração
Oração

No mesmo pensamento, a oração, tem um fundamento claro de reconciliação, e esta é com Deus, na busca desta intimidade, este colóquio da criatura com seu Criador. “Atende à oração e à súplica do teu servo, Javé meu Deus! Ouve o clamor e a prece que teu servo faz diante de ti.” (II Cronicas 6,19) Com o auxílio de Deus a Igreja nestes séculos, tem diversos mestres e santos, que nos ensinaram tanto sobre esta intimidade com Deus, através da oração na busca da fonte que sacia toda a sede.
Nosso Senhor em sua vida pública, foi mestre de oração e numa via continua de busca da comunhão com Deus pai Criador, Ele mesmo sendo Deus como diz o credo: “Creio em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, unigênito do Pai,da substância do Pai; Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai.” Quantas vezes não se retirava à oração; “Logo depois de despedir as multidões, Jesus subiu sozinho ao monte, para rezar. Ao anoitecer, Jesus continuava aí sozinho.” (Mt 14,23) e no Pai Nosso, nos ensina o fundamento de toda uma vida unitiva e orante com Deus. “Percorrei todas as orações que se encontram nas Escrituras, e eu não creio que possais encontrar nelas algo que não esteja incluído na oração do Senhor (Pai Nosso)” (Sto. Agostinho). A oração do Pai Nosso, ensinada por Cristo, está fundamentada em 7 pedidos que convergem, todas as outras orações da Igreja, e o número 7 nas Escrituras indicam, perfeição e plenitude.
 “O Pai Nosso é a mais perfeita oração”. (Santo Tomás de Aquino) 
Os pedidos da oração do Pai Nosso; 1o que seu nome seja glorificado, 2o que o seu reino venha a nós, 3o que sua vontade seja feita, 4° nosso pão de cada dia, 5o o perdão dos nossos pecados, 6o a vitória sobre as tentações e o 7o que os livre de todo mal. Santa Teresa ligava os sete pedidos do Pai Nosso aos títulos de Deus dados por nosso amor. No primeiro pedido ela o honra especialmente como seu Pai; no segundo o adora como seu Rei; no terceiro o ama como seu Esposo, no quarto, onde se pede o pão de cada dia, reconhece Jesus como seu Pastor; no quinto como seu Redentor; no sexto como seu Medico; e no sétimo como seu Juiz. Podemos concluir que há diversos modos de meditarmos a oração ensinada por Cristo.
Todo o tempo pode ser dedicado a oração, podemos reserva um momento exclusivo, mas no ensinamento da vigilância: “Vigiem e rezem, para não caírem na tentação, porque o espírito está pronto, mas a carne é fraca”.(Mt 26,41) e como os padres do deserto, entenderam que todo o tempo é tempo de oração, surgiu á devoção da oração bizantina, onde em todos os momentos se pronunciavam, jaculatórias de invocação ao Senhor, a mais comum era: – Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, tende piedade de mim, pecador! Ou a invocação constante do nome de Jesus (Deus salva). Pois nada nos impede de rezar em todo o tempo e lugar, é à busca desta reconciliação constante com Deus e o pedido do auxílio da sua graça sobre nós.
Quisera poder em todos os momentos de oração, estar dentro de catedrais, magníficas, ao som de belíssimos cantos gregorianos, sentindo o perfume do incenso e arrebatados, em profunda comunhão aos mistérios de nossa fé, mas nem sempre esta é nossa realidade e nem por isso podemos deixar de estarmos vigilantes e atentos. "Ao contrário, quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu Pai ocultamente; e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você."(Mt 26,41)
 Esmolas
 Este convite de reconciliação, assim como na via do jejum nos reconciliamos conosco, na oração com Deus e através da esmolas com o próximo, mas uma via unitiva e de comunhão. “Dê esmolas daquilo que você possui, e não seja mesquinho. Se você vê um pobre, não desvie o rosto, e Deus não afastará seu rosto de você.” (Tobias 4,7)
A esmola é uma via de união com Deus através da virtude da caridade, em ato concreto. “Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade.” (1Cor 13,13)
Tanto as Sagradas Escrituras, o Magistério e a Tradição sempre ensinaram de forma eloqüente sobre o dar esmolas, como um ato de louvor a Deus e reconhecimento de que tudo recebemos Dele. Santo Ambrósio nos diz que a esmola é quase um segundo batismo e um sacrifício propiciatório que nos faz obter graça diante de Deus. Diga-me que remorso no juízo para aqueles que desprezam e caçoam dos pobres, quando Jesus Cristo lhes mostrar que foi a Ele mesmo que injuriaram! (Mt 25)
Por menor que seja a nossa oferta de esmolas aos pobres é a intenção que é válida, mas sem perdemos a coerência naquilo que fazemos, se alguém te pede uma esmola para almoçar e você dá 10 centavos, o que ela vai almoçar com esse valor? Isso não é esmola.  “Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará?” (Tg 2,15-16)
Vemos, que as atitudes de conversão, que o tempo de quaresma nos convida, de jejum, oração e esmolas, não são uma quarentena anual, mas atitudes de vida, de cristianismo, de catolicismo, não basta 40 dias por ano e sim uma vida constante, neste tempo, é preciso reconhecer o quanto nos falta e mudar!