sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Peça à Mãe que o Filho atende

"Pede à Mãe que o Filho atende!" O que os filhos pedem à mãe? Tudo. A mãe faz de tudo para atender os pedidos do filho. Imagine o que a Mamãe do céu não está fazendo nesta hora por você.


Deus quis contar com Maria. Ela não é uma mulher qualquer, é a Mãe de Jesus, a Mulher escolhida por Deus. A Mãe de Jesus é também a sua mãe. Nossa Senhora está batendo à porta do seu coração e quer entrar na sua vida. Quando nos entregamos a Nossa Senhora o fazemos com a mente e também com o coração.

A Virgem Maria caminha conosco e vem em auxílio de nossas necessidades. Em um estalar de dedos, Deus poderia fazer todas as coisas, mas Ele não o quis. No plano da salvação o Altíssimo quis contar com Nossa Senhora.

A intercessão da Mãe de Deus é muito discreta, porque a sua presença em nossas vidas é muito discreta, silenciosa, por vezes, quase imperceptível. A Virgem Maria é nossa Mãe espiritual e, como tal, está sempre atenta às nossas necessidades, ainda que não percebamos. Foi isso que aconteceu nas Bodas de Caná, quando Jesus realizou Seu primeiro milagre, transformando água em vinho (cf. Jo 2, 1-11). Nossa Senhora percebeu que o vinho, parte essencial da festa de casamento dos judeus, estava acabando e disse ao Filho: “Eles já não têm vinho” (Jo 2, 3). O pedido da Mãe apressou a hora de seu Filho (cf. Jo 2, 4), o início da vida pública de Jesus. Todavia, depois da sua intercessão, Nossa Senhora sai de cena, dizendo aos serventes e a cada um de nós que devemos obedecer a Jesus: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5).

A Virgem Maria entra no coração de Deus com a nossa necessidade e sai de lá com as graças de que precisamos nas mãos. A missão de Maria é interceder por cada um de nós. Ela recebeu de Deus este dom.

“Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galileia, e achava-se ali a mãe de Jesus. Também foram convidados Jesus e os seus discípulos. Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles já não têm vinho. Respondeu-lhe Jesus: Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou. Disse, então, sua mãe aos serventes: Fazei o que ele vos disser” (João 2, 2- 5).

Interceder é falar para Deus do problema das pessoas, e falar de Deus para as pessoas. Foi isso que Nossa Senhora fez nessa passagem. Como você está? Qual "vinho" tem lhe faltado em sua vida? Peça a Nossa Senhora, peça à Mãe que o Filho atende. Ela quer cuidar de você e derramar graças sobre você. Ela é a medianeira de todas as graças.

Ela quer curar o coração de seus filhos, quer que você experimente a presença materna em sua vida. Ela quer colocar você dentro de seu próprio coração. Você não vai ficar sem experimentar a presença de Mãe de Nossa Senhora. Ela quer falar com você e o está envolvendo com a presença dela.


É ao proclamar a palavra "MÃE" que a Virgem Santíssima quer curar você. Não tenha medo!

Ela quer tocar as chagas do seu coração. De forma especial, você que teve uma experiência negativa com a mãe da Terra, ela quer cuidar de suas feridas. Permita que ela o tome nos braços, assim como ela toma Jesus. Imagine-se, agora, aos pés da cruz assim como estava João, o discípulo amado, você também é um discípulo amado. Jesus lhe diz: “Filho, eis aí a tua mãe!”, a receba como sua Mãe.

O discípulo amado somos todos nós. Essa Mãe atende todas as nossas necessidades. Não tenhamos medo de pedir a intercessão dela e de ir além. Da cruz Jesus nos deu a Sua Mãe porque sabia que precisamos dela.

No Evangelho em que narra Jesus na cruz entregando ao discípulo amado a Sua Mãe, diz que Maria estava ao lado, perto do discípulo indicando onde é nosso lugar, perto da Mãe. Não fique longe, corra para perto de Nossa Senhora, fique perto da Mãe de Deus!
Como ficamos perto de Nossa Senhora? Por intermédio da oração, e oração do simples. Recorra a ela, leve tudo o que está vivendo para a Mãe, chore no coração de Nossa Senhora. Não queira viver tudo sozinho, como um filho longe de sua mãe.

                                                    Certa vez perguntaram a Dom Bosco como todas as suas obras haviam começado e ele respondeu que tudo começou com uma Ave-Maria.

Com Nossa Senhora podemos enfrentar tudo e permanecer em pé diante das lutas e das decepções. Precisamos adentrar na escola de Nossa Senhora, como Jesus esteve na escola de Maria, Ele mesmo nos coloca na escola dela.

Dê a Virgem Maria as chaves do seu coração, ela tem as chaves do céu e que ela também tenhas as chaves de seu coração. Muitas pessoas vivem envoltas nos medos, por isso se fecham. A partir de hoje permita que Nossa Senhora o tome pelas mãos e tire você dos medos.




Não esqueça! Ela entra no coração de Deus com nossas necessidades e sai com as graças nas mãos.

A Virgem Maria ensina-nos a esperar, a confiar, a lutar… Experimente, agora pela oração, a presenta materna de Nossa Senhora, peça a ela! Diga que você quer experimentar a presença materna dela.








sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Precisamos nos abandonar na confiança em Deus


Deus pode mudar a nossa vida, mas essa mudança pressupõe nossa confiança ao nos abandonarmos n’Ele

Convido você a rezar comigo essa oração, antes de começar a ler o que vem a seguir:

“Lava-me, Senhor, com Teu Sangue precioso. Derrama o Sangue das Tuas chagas, derrama o Sangue das Tuas mãos e dos Teus pés. Lava-me com Teu Sangue por inteiro, Jesus – corpo, alma e espírito. Envolva com Teu Sangue a minha mente, o meu coração, os meus olhos, a minha vontade, os meus sentimentos e pensamentos. Estou Te pedindo, agora, Senhor, derrama Teu Sangue precioso sobre toda a minha pessoa. Senhor Jesus, que o Teu Sangue seja agora a minha defesa, a minha fortaleza e guarda; que nada do maligno possa me atingir pelo poder do Teu Sangue precioso derramado sobre mim, sobre os meus e sobre todos os meus bens. Lava com Teu Sangue, Jesus, a minha história. Lava com Teu Sangue o meu passado, os meus pecados e a minha família. Lava com Teu Sangue todas as áreas do meu ser e tapa todas as brechas em mim e nos meus. Seu Sangue, Jesus, tem poder sobre mim, ele é a minha defesa. A minha proteção é o Sangue de Jesus. Eu acolho, agora, o Sangue precioso de Jesus, que é a minha redenção”.

Agora, renuncie a todo o mal:

“Eu (diga seu nome) renuncio, em nome de Jesus, a todo mal, a todo pecado, a tudo que me queira perder, a tudo que rouba a minha atenção, a tudo que me rouba da vontade de Deus. Eu renuncio à tristeza, à depressão, aos medos e à falta de fé. Renuncio ao desânimo, ao pecado, aos vícios e a tudo que me afasta de Deus, como os maus pensamentos. Eu renuncio aos apegos e às influências do inimigo sobre a minha sensibilidade, sobre as minhas emoções, os meus sentimentos e a minha vontade. Eu renuncio a toda contaminação espiritual, a todo mal de qualquer nome, espécie ou poder em nome de Jesus; e eu ordeno, agora, também em nome de Jesus, que todo mal deixe a mim e aos meus e que vá, agora, aos pés da cruz, para que o Senhor o encaminhe, e eu o proíbo de voltar em Seu nome. Jesus é o meu Senhor, é o Senhor deste lugar, do meu dia, da minha família. Ele é o Senhor do meu coração e eu não temerei, mas confiarei n’Ele. Hoje, eu renovo a minha fé, porque Jesus é o meu Senhor. Vem, agora, Espírito Santo, sobre mim e sobre os meus, preencha todos os espaços em nós”.

Nós precisamos confiar em Deus diante das dificuldades que enfrentamos.

“Agindo Deus, quem impedirá? Ninguém impedirá” (Is 43,13). 
O Senhor age, mas nós precisamos confiar n’Ele e receber todos os benefícios que Ele tem para a nossa vida e história. Sem confiança, ninguém pode ser alvo concreto de esperança.
Precisamos aprender a confiar em Deus. 
Quantas vezes você olha para frente e só vê escuridão? Deus lhe diz: “Caminhe com confiança, que eu lhe mostrarei a luz da vitória”. O Senhor reservou graças e bênçãos para nós. Você acha que Ele é tão fraco, que não pode mudar a sua vida? Ele pode mudar, sim, mas essa mudança pressupõe uma confiança abandonada. No meio da tempestade, precisamos antever a esperança.
Como que Deus age? Você acredita que, quando Ele age, alguém poderá impedi-Lo? Você acredita que Ele pode transformar a sua vida? Você precisa entrar na lógica de Deus.
Vamos refletir sobre uma figura biblica: Rei Davi. Ele nos ajudará a entender de que maneira o Senhor age em nossa vida e história. São cinco princípios que vão nos nortear para a ação do Altíssimo e como devemos agir.
Primeira característica: o certo é mais forte que o poderoso. 
Golias era um gigante, era poderoso e temido. Ele fazia barulho, mas era Davi quem estava certo. Por quê? Porque Davi lutava em nome do Senhor, Ele combatia com Deus. O poderoso faz barulho, mas quem combate em Deus, ainda que enfrente uma luta grande, terá a vitória, porque o certo é mais forte que o poderoso.
Quando nós combatemos em nome de Deus, o fazemos pela Sua revelação bíblica, pela verdade acerca da família, daquilo que somos. Para a ação de Deus acontecer em nossa vida, precisamos optar por aquilo que é certo, optar pela verdade. Deus nos ama do jeito que somos.
Se você não se sente amado, mas usado por alguém, saiba que o Senhor não usa você, porque Ele o ama. Você vale o Sangue d’Ele, e esse valor é tudo! Mas para que a ação de Deus se concretize na sua vida, é preciso escolher pelo certo. Não se deixe intimidar pelo Golias das suas dificuldades, dos seus vícios e do seu desemprego.
Segunda característica: a ação de Deus prepara Seus servos para as batalhas da vida. 
O Senhor estava preparando Davi para o grande desafio, que era enfrentar Golias. Precisamos deixar Deus nos formar por meio de cada “leão”, de cada “urso” que Ele coloca em nossa vida todos os dias. Não podemos desistir de enfrentar esses “leões e ursos” que existem dentro de nós; precisamos lutar para matá-los todos os dias, porque eles são a fofoca, a impureza e os vícios que nos cercam diariamente.
Como Deus é pedagógico conosco! Ele já nos preparou, pelos acontecimentos da vida, para cada desafio. Um dia, li uma frase interessante: “Muitas pessoas que são vencedoras devem suas conquistas aos problemas que tiveram de enfrentar na vida”. Quando Deus quer uma obra, os obstáculos se tornam meios para a conquista. Deixemos Ele nos preparar e formar, deixemos que Ele cuide de nós. Hoje, não conseguimos ver, mas matamos um leão a cada dia.
Terceira característica: você precisa assumir a sua realidade. 
Davi, novo e ruivo, apareceu diante do rei e se lhe apresentou como era. O rei deu sua armadura a Davi num gesto mais político do que sincero, e este colocou toda aquela roupa com escudo e espada. Tenho certeza que, ao caminhar, Davi deva ter caído, porque era fraco e pequeno. Em outras palavras, Davi agradeceu a armadura, mas não a usou para lutar.
Precisamos ser nós mesmos e retirar toda falsa armadura de nós, ou seja, as coisas que vamos assumindo para agradar aos outros, as coisas que vamos incorporando para sermos aceitos em nosso meio social, em nosso trabalho. Mas que coisas são essas? São falsos valores, mentiras que assumimos como verdade, o medo que não nos deixa caminhar. Deus não quer a perfeição de Seus filhos, mas quer que tenhamos a coragem de dar um passo. Não deixemos de ser ousados, não nos contentemos com o que conquistamos até hoje. Às vezes, assumimos certos comportamentos e posturas na vida para sobreviver. Davi nos revela que a vitória no combate não nos é dada pelo tamanho da espada, mas pelo tamanho da fé.
Quarta característica: conheça bem as suas armas e saiba usá-las. 
Saul ofereceu escudo, armadura, espada e capacete real para Davi, mas este se tornou ele mesmo, tirou as máscaras e compreendeu quais eram as verdadeiras armas que tinha à disposição. Quem não descobre as próprias armas e não as usa bem, já começou a perder a batalha.
Mesmo que as armas de Davi fossem simples, como suas cinco pedrinhas, Ele as conhecia bem. Você acha que não riram dele, quando caçoaram de suas “armas”? Em primeiro lugar, a arma que Deus nos dá é a fé, a Sagrada Escritura, a obediência a Ele. A arma que Ele nos dá é o perdão, a confiança n’Ele, o Espírito Santo que age em nós. Quem luta com armas erradas não consegue vencer as batalhas.
Quinta característica: O Evangelho de Marcos nos coloca um quinto e último principio, que é a confiança.

O Evangelho fala de Jesus, que estava dormindo no barco enquanto os discípulos estavam com medo e desesperados. Jesus acordou, acalmou o mar e lhes perguntou: “Por que vocês são tão medrosos? Ainda não tendes fé?”. Saiba que Jesus está no seu barco e Ele vai acalmar as tempestades da sua vida, as lutas que você enfrenta. Ele cuida de você, mas você precisa confiar que Ele está no barco da sua vida.



Somos amigos de Deus


Em João 15:15 diz:  “Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu tornei conhecido a vocês.”
É incrível saber que Deus nos chama de amigos.
Deus quer de nós um relacionamento cujo intuito é criar um vínculo de intimidade eterna. Ele quer ser nosso melhor amigo! Ele quer que contemos para Ele tudo, mesmo Ele já sabendo; Ele quer saber das nossas alegrias, nossas aflições, nossos medos, nossos sonhos e nossos segredos.
Se olharmos para o contexto, no versículo 14 diz “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.”
As amizades geralmente requerem algumas condições, e, na amizade que Deus deseja conosco, muitas vezes teremos que sacrificar algumas das nossas vontades ou sonhos, e até mudar de caminho, mas ter a certeza de que os caminhos e os pensamentos que Deus tem sobre nós são muito maiores do que os nossos próprios. Isso sim faz esta amizade valer muito a pena: Obedecer a Deus e nos submetermos a Ele com toda a certeza de que o coração de Deus se enche de alegria quando obedecemos, ao ponto de Ele sentir tanto amor que nos chama de amigos!
Ter Deus como amigo nos transforma, nos molda a um caráter semelhante ao de Cristo.
Acredite na amizade que você tem com Deus e anseie obedecê-lo diariamente!
Muitas vezes, nossos amigos “terrenos” irão nos magoar ou até mesmo nos abandonar, mas Jesus não. Ele nunca falha e jamais deixará de ser nosso amigo! Só um amigo de verdade, como Jesus, para nos amar e querer o nosso bem de tal forma!
Agora pare e escute essa canção:



sábado, 21 de abril de 2018

Ministério de Artes Semear

O que é esse ministério?




Não tenho uma resposta pronta para essa pergunta, até porque ela vai se construindo a medida em que vamos vivendo esse ministério. Então vou tentar descrever um pouco do que já vivi até aqui.

É muito engraçado como eu me vejo em cada um do ministério, cada experiência relatada e vivida por cada um, eu consigo me ver ali.

Para saber o que é, tem que viver, só quem vive o ministério, mas vive de verdade, vai saber o que significa tudo isso, não tem explicação e não adianta explicar. Quantas vezes fui criticado e questionando do porque estar aqui, Mas nem perco tempo explicando, prefiro convidar a vir e viver o que vivo aqui.

Ser ministério é ser semeador do evangelho através da própria vida, é ser exemplo de vida com a vida, é ser um outro Cristo com nossa vida. É transformar a vida das pessoas com a nossa vida, com o nosso exemplo, com nossas atitudes, mas também através da dança, da arte, da música.

Compromisso, responsabilidade, amor, união, apoio, dedicação, alegria, salvação, esses são alguns dos tantos sinônimos do ministério Semear..

O ministério faz com que aconteçam mudanças na nossa vida dentro e fora da igreja, reflete diretamente no nosso trabalho, Nos nossos estudos, enfim em toda nossa vida.

Engraçado quando eu vejo e escuto os problemas de cada um e percebo o quanto nossos problemas são parecidos e o quanto podemos ajudar uns aos outros com nossas experiências e o quanto o ministério tem me ajudado a ser uma pessoa melhor na minha vida.

A cada ano que passa o ministério nos apresenta uma nova experiência com Deus, ele nos faz sentir o quanto Deus nos ama e nos quer próximos dEle. 

Fé e razão, ciência e religião, será que é possível viver em harmonia ? Será que é preciso separar as duas coisas ? 

Até isso o ministério nos faz refletir. 

Quantas vezes não nos deparamos com esse questionamento? 
Quantas vezes não ficamos na dúvida sobre acreditar em Deus ou seguir o que a ciência diz ? 
Mas quem falou que precisam se separar ? 
Quem falou que são duas coisas distintas, como diz a canção, fé e razão são duas asas de um mesmo querer.

Estar no ministério é muito mais que uma obrigação, é uma alegria, um prazer, uma emoção que só quem vive, sabe o que é. Muitas vezes vamos a algum lugar por sermos obrigados e pela responsabilidade que assumimos, mas no ministério é diferente, vir aqui e estar vivendo tudo isso que vivemos aqui é algo mágico, algo  inexplicável, pois quando a gente faz com amor, nada vai ser impedimento para que estejamos presentes, é vou fazer qualquer sacrifício para estar presente, sou capaz de largar tudo por aquilo que amamos.

Não, esse não é um testemunho meu, não é um depoimento deste que escreve, mas é a vida e a experiencia de cada um que hoje é MINISTÉRIO DE ARTES SEMEAR. Tenho certeza que cada um se identifica com tudo que foi dito aqui.

E para continuar essa reflexão, te convido a ler as seguintes passagens:

II Cor 12, 9
Mt 5, 11 - 12
Mt 5, 13 - 14
Ecle 3, 1-9


quarta-feira, 4 de abril de 2018

As bodas de caná

'Et die tertia nupciae factae sunt in Cana Galileae;
et erat mater ejus ibi.'
(Jo II, 1)



Foi nas bodas de Caná que Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo seu comparecimento, estabeleceu o sacramento do matrimônio.
Repare-se que estas núpcias foram realizadas 'in die tertia', no terceiro dia. Ora, conforme nos explica e ensina São Paulo na sua Epístola aos Efésios (V,32), o Matrimônio é símbolo de um sacramento muito mais alto: o das núpcias de Cristo com a Igreja: 'Este mistério é grande, mas eu o digo em relação a Cristo e à Igreja'. Pois assim como o marido e a mulher têm filhos segundo a carne, assim Cristo e a Igreja geram os filhos de Deus.
São Tomás de Aquino, em seus esplêndidos 'Comentários sobre o Evangelho de São João' (Tradução, notas e Prefácio de M.D. Philippe O P., Edição Les Amis de Saint Jean, Rimont - Buxy , 1977), repete o que diz São Paulo: 'Em sentido místico, as núpcias significam a união de Cristo com a Igreja' (Ed. Cit. Cap. II, Lição I, nº 338, vol. I , p. 338).
Ora, toda geração cristã legítima se faz através do matrimônio. Era, pois, muito conveniente Cristo, cabeça divina da Igreja e seu Esposo, principiasse sua ação apostólica, pela instituição do matrimônio. Daí ter ele comparecido a essas núpcias, em Caná, juntamente com seus Apóstolos e com sua Mãe Santíssima. 'Et mater ejus ibi'. E sua mãe estava aí.
Também era muito próprio que isto ocorresse 'in tertia die', porque este era o terceiro dia em que Deus estabelecia uma união com os homens. Pois, no primeiro dia do homem, na manhã original da criação de Adão e Eva, Deus os abençoou e estabeleceu que eles deviam 'crescer e multiplicar-se' (Cfr.Gen. II, 28), a fim de que muitos participassem da vida e felicidade divinas. E esta foi, em certo sentido, a primeira aliança de Deus com o homem. E a esta primeira aliança o homem foi infiel quando cometeu o pecado original.
Num segundo dia, Deus firmou sua Aliança com Abraão (Gen. XII, 2-3), prometendo-lhe uma grande descendência, assim como a sua benção e proteção. Foi dessa aliança que nasceu o povo eleito, com o qual Deus firmou seu pacto no Sinai.
Agora, 'in die tertia', Cristo instituía o sacramento do Matrimônio, imagem de suas núpcias eternas com a Santa Igreja.
E São Tomás, comentando essa expressão – 'in die tertia' – diz que o primeiro dia foi o da lei natural; o segundo foi o da lei de Moisés; e o terceiro foi o dia da graça (Op. e ed. Cits. Cap. II Lição I, nº 338, p. 325).
Esta ação de Cristo se deu em Caná da Galiléia. Ora, Caná significa zelo, e o nome Galiléia tem raiz em Galut, que significa exílio. Porque, a Sabedoria divina exilando-se do céu, encarnou-se em Cristo, para , ardendo em zelo, vir a esta nossa terra de exílio, a fim de salvar os homens.
E Deus, Nosso Senhor, se encarnou para salvar a todos os homens, e não apenas os judeus. Por essa razão, Ele nasceu na Judéia, mas fez seu primeiro milagre e começou sua pregação na Galiléia. Ora, a Galiléia era mal vista pelos judeus, porque, depois do Cisma das Dez Tribos, ela pertencera ao Reino de Israel, e este Reino separara-se do culto oficial judaico no Templo de Jerusalém. Além disso, a Galiléia estava em próximo contato com as nações pagãs, sofrendo a influência dos fenícios idólatras. Por todas estas razões é que Natanael duvidou que o Messias pudesse vir de Nazareth, perguntando : 'De Nazareth pode, porventura, sair coisa que seja boa ? ' ( Jo. I, 40).
E, entretanto, foi naquela que era chamada a 'Galiléia das nações', isto é, o exílio das nações, foi lá que cristo estabeleceu suas núpcias com a Igreja, porque, após a apostasia de Israel, Deus faria sua aliança com os gentios, no exílio.
Era, pois, entre os galileus, embora menos desprezados que os samaritanos pelos judeus, que Cristo ia iniciar a sua pregação. Queria Ele demonstrar assim que seu zelo não se limitava aos judeus, descendentes de Abraão, mas que Ele vinha, ao terceiro dia, para salvar todos os filhos de Adão.


Quem eram os noivos ?

Os noivos de Caná eram judeus, membros da Antiga Aliança, e suas núpcias se davam ainda de acordo com a Lei de Moisés e os costumes da Sinagoga. Eles representavam então as núpcias de Deus com a Sinagoga, que São Paulo comparou com as núpcias de Abraão com sua escrava Agar, e a de Jacó com Lia. Agar era a escrava e não a esposa legítima e primeira, e Lia tinha os olhos doentes e, por isso, não via bem. Assim, a Sinagoga foi a escrava e não a verdadeira esposa, e, quando chegou o Esposo, ela não o reconheceu, porque não viu nEle a realização das profecias, Ela 'foi cega ao meio dia', hora em que levantaram Cristo na cruz no Calvário. Pois, como o próprio Moisés profetizara, caso Israel fosse infiel: ' O Senhor te fira de loucura e de cegueira e de frenesi, de sorte que andes às apalpadelas ao meio dia, como um cego costuma andar às apalpadelas nas trevas, e não acertes os teus caminhos' (Deut. XXVIII, 29). E Isaías confirmou isto ao profetizar: 'Tira para fora o povo cego, apesar de ter olhos, o povo surdo, apesar de ter ouvidos' ( Is. XLVII,8).


Mas Sara, a esposa legítima, foi abençoada, mesmo que seu filho tivesse nascido depois do filho da escrava. E Raquel, a segunda esposa de Jacó, mas que ele desejara 'desde o Princípio', Raquel tinha olhos claros e que voam bem, por isso o seu nome significa visão de Deus, e seu filho foi o preferido de seu esposo.

No Templo de Jerusalém, o povo da Antiga Aliança ofertava a Deus bois e cordeiros, o sangue e a gordura deles. Eram sacrifícios puramente materiais que faziam para reconhecer o senhorio de Deus sobre tudo o que possuíam. Estes sacrifícios simbolizavam o sacrifício que ia ser realizado no Calvário, e repetido no sacrifício da Missa sobre os altares da Igreja.

Os sacrifícios materiais dos judeus tinham pouco valor intrínseco. De fato, de que servem para Deus carneiros e bois imolados? Ademais, nem estes pobres sacrifícios materiais os judeus faziam de coração puro e com generosidade, e tinham se tornado cegos a seu significado.

Este vazio dos sacrifícios judaicos foi simbolizado no fato de que, em Caná, o vinho da festa de núpcias acabara nas urnas de pedra dos judeus. A incomparável superioridade do valor sacrifício de Cristo no Calvário e nas Missas – sacrifícios de valor infinito porque neles se imola o próprio Filho de Deus – é figurada na superioridade imensa do vinho feito miraculosamente por Cristo, em Caná, sobre o vinho que fora servido inicialmente aos convivas judeus.

Nas bodas de Caná, estavam presentes os Apóstolos de Cristo e sua Mãe Santíssima que eram membros do povo judeu, fiéis à revelação e à lei mosaica. Eles eram os restos fiéis do povo eleito, que sofriam com a decadência religiosa e moral dos filhos de Abraão, e com a cegueira dos sacerdotes, saduceus e fariseus.

Por essa razão, Nossa Senhora, cheia de zelo e de prestimosa caridade, é quem observa a Cristo: 'Eles não têm mais vinho' ( Jo, II, 3).

Falando da situação embaraçosa e humilhante em que se encontravam os pobres noivos de Caná, ela se referia, de fato e num plano superior, à situação lastimável do povo eleito, que já não tinha mais 'vinho' em seu coração, para ofertar a Deus no Templo. Era Israel como as virgens loucas da parábola, que já não tinham óleo em suas lâmpadas, quando chegou o esposo.


Que vinho faltava para os Judeus?

São Tomás, no seu Comentário ao Evangelho de São João, que vimos citando, explica que aos judeus faltavam então três vinhos:

1º. o vinho da Justiça - Porque a Justiça dos judeus no Antigo Testamento era imperfeita
2º o vinho da Sabedoria - sua Sabedoria era em figura e não real,
3º o vinho da Caridade - sua Caridade não era filial, mas servil.

 (Cfr. São Tomás, Op. Cit. Cap. II, lição I, nº 347, vol. I, p. 332).

Por que estas virtudes foram comparadas por Cristo ao vinho ?

O mesmo Aquinate no-lo explica dizendo: ' ...o vinho é áspero, e é a esse título que a Justiça é chamada vinho(...) por outro lado, 'o vinho alegra o coração do homem' (Sl. CIII,15). É nisto que a Sabedoria é vinho, porque sua meditação traz a alegria mais viva (...) 'Da mesma forma, o vinho inebria (...) por esta razão se diz que a caridade é um vinho(...) E a Caridade é dita ainda vinho em razão do ardor que ele produz' ( São Tomás, Op. Cit. Cp. II, lição I, nº 347, Ed. Cit., Vol. I, pp. 331-332).

Quando Nossa Senhora disse a Cristo : 'Eles não têm mais vinho', a resposta de Nosso Senhor à sua Mãe, à primeira vista, pareceria dura àqueles que não possuem verdadeira compreensão da Sagrada Escritura. Disse Ele: 'Quid mihi et tibi est, mulier? Nondum venit hora mea' _ 'mulher, que temos Eu e tu com isso? Ainda não chegou a minha hora'. ( Jo. II, 4).

Os protestantes se rejubilam, porque, segundo eles, Cristo teria dado uma resposta dura senão grosseira à sua Mãe, por chamá-la simplesmente de 'mulher' e não de Mãe. Na sua malícia esses protestantes nem se dão conta que, dizendo isso, estão acusando ao próprio Cristo Deus de faltar com a honra devida aos pais, como também de faltar com a virtude da mansidão.

Ora, examinando-se melhor a resposta de Cristo, se vê como ela é, de fato, elogiosa para com a Virgem Maria. Em primeiro lugar, convém lembrar que Ele a chamou de 'mulher', também no Calvário, dizendo do alto da Cruz: 'Mulher, eis aí o teu filho' ( Jo. XIX, 26).

Chamando-a de 'Mulher', Ele fala como Deus à sua criatura. Mas, ainda mais importante do que isso para compreender o texto, é que Cristo chama sua Mãe Santíssima de 'Mulher', para que todos reconheçam nela aquela 'mulher' que profetizou no Gênesis, quando amaldiçoou a serpente: 'Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua raça e a dela, e ela mesma te esmagará a cabeça' (Gen. III, 15).

Cristo, então, chama sua Mãe de mulher, para que todos reconheçam nela a mulher , aquela que esmagou a cabeça da serpente ao consentir na Encarnação do Verbo, 'Semine ejus', o Filho de Deus nascido de Maria Virgem. E assim como de Cristo se disse bem propriamente 'Ecce Homo' – Eis o Homem -- , assim também é próprio dizer da Virgem Maria Mãe de Deus: 'Ecce Mulier' , Eis a Mulher, Mater et Virgo, aquela que possui as duas perfeições mais importantes da 'Mulher': ser Mãe e ser Virgem.

São Tomás comenta que Cristo chama Maria de mulher, para mostrar que Ele era Filho de Deus e de uma mulher, a fim de combater todas as heresias gnósticas, como a dos maniqueus e a dos cátaros, que condenavam a matéria como sendo má em si, e obra do deus do mal. Por isso, maniqueus e cátaros condenavam a mulher, o casamento e a procriação. Afirmando-se também como filho de uma mulher, Cristo condenava as heresias que negariam a sua humanidade, como iam fazer os eutiquianos, que afirmavam ter tido Ele apenas um corpo aparente e não verdadeiro.

Por tudo isso, convinha muito que o Evangelho salientasse que ela era 'a mulher' e que afirmasse ser ela a mãe de Jesus: 'E Mãe de Jesus estava aí'. Por isso também São Paulo afirma? 'Deus enviou seu Filho, nascido de mulher' (Gal. IV,4). Maria, pois, foi a mulher e a Mãe de Jesus.

Cristo afirma que nem Ele nem ela tinham qualquer responsabilidade pela falta de vinho, nas bodas de Caná. Não fora nem por causa de Deus, nem por causa dos justos de Israel que o povo eleito já não tinha nem o vinho da Justiça, nem a Sabedoria, nem a Caridade. Se a Sinagoga estava carente de vinho para as suas núpcias com Deus, isto era por culpa exclusiva dos maus judeus, principalmente de seus príncipes e doutores. Nem Cristo, nem a Virgem tinham qualquer participação na culpa da Sinagoga, da qual não compartilhavam nem da culpa e nem da decadência.

Não chegara ainda a hora de Cristo. Esta hora suprema a que Ele se referia chegaria na Páscoa Santa na qual Ele instituiria o sacrifício da Nova Aliança, na Santa Ceia do Cenáculo e, pouco depois, no Calvário. Agora, em Caná, foi o pedido da Virgem que fez Ele antecipar a hora dos milagres, pois este é o poder da oração: como que 'forçar' a vontade de Deus, tal qual Jacó forçou o anjo a abençoá-lo. O que lhe valeu o misterioso nome de Israel, isto é, 'forte contra Deus' (Gen. XXXII,28). Não que a oração mude a vontade de Deus, mas Deus condiciona a doação de suas graças e de seus planos providenciais à súplica dos homens.

Maior do que a força de Jacó arrancando a benção do anjo foi a força da petição de Maria arrancando de Cristo, seu divino Filho, a antecipação de sua hora. Por isso, mais do que Jacó ela merece o nome de Israel, 'forte contra Deus'. Daí São Luís de Montfort, o grande Doutor mariano denominá-la de 'omnipotência suplicante'. E mais do que a ninguém vale para ela o que Cristo disse dos violentos: 'O Reino de Deus sofre violência, e todo dia os violentos o arrebatam' (Mt. XI, 12).

Neste caso do milagre de Caná, Ele quis demonstrar que a transformação da água em vinho – primeiro de seus milagres públicos na ordem natural – se deu por causa das súplicas de sua Mãe a Virgem Maria.

Que importância tinha, em concreto, o ter acabado o vinho numa festa em Caná da Galiléia naqueles longínquos tempos ? Que era Caná, mísera aldeia de uma mísera província desprezada até pelos judeus ? Que era a Judéia, então ? E que eram aqueles pobres noivos de que não restou nem o nome, apesar do milagre enorme que por eles foi feito ?

O fato, de si, minúsculo da falta de vinho numa festa de casamento não tem qualquer importância aos olhos dos homens. Mesmo para os convivas, que importância maior teria o fato de terem que ir embora um pouco mais cedo porque o vinho acabara ? Que conseqüências haveria para o mundo e para a História, caso a festa de núpcias de um desconhecido e irrelevante casal de noivos, na irrelevante e desconhecida Caná se encerrasse antes da hora por falta de vinho ?

Nem a Galiléia, nem Caná, nem os noivos, nem a falta de vinho tinham de si qualquer importância. Mas. A delicada caridade e o afeto maternal de Maria se comoveram diante do embaraço daqueles pobres noivos que nada lhe pediram, mas a quem ela se apressou a socorrer, implorando a Cristo um milagre, ainda que fosse antecipando a hora providencialmente estabelecida.

E São Tomás, nos Comentários que dele estamos citando, nota que Nossa Senhora não esperou que necessidade dos noivos chegasse ao extremo. Quando viu que o vinho estava acabando, logo pediu a Cristo que desse remédio à situação ( São Tomás, op. Cit. Cap. II , Lição I, nº 345, Vol. I p. 330).


Foi essa caridade preventiva da Virgem Maria que levou Dante – sublime poeta a tantos títulos censurável – a escrever estes esplêndidos versos a respeito da bondade de Nossa Senhora:

                                (Dante Allighieri, Divina Comedia, Paradiso, XXXIII,13-21).



Magníficos e verazes versos de um poeta que nem sempre foi veraz, porque mantinha uma 'dottrina nascosta sotto il velame delli versi strani ' (Dante, Divina Comedia, Inferno, IX, 63).

Em seu Comentário ao Evangelho de São João , São Tomás nos diz que, a Virgem Maria, pedindo o milagre a Cristo em Caná, 'representa nisto a Sinagoga, que é a mãe de Cristo: com efeito, os judeus têm o hábito de pedir milagres, como o diz São Paulo: 'Os judeus pedem sinais' (I Cor. I, 22).

Se Nossa Senhora pediu o milagre por caridade material, ela imediatamente dá aos servos do noivo um conselho que serve para todos nós: 'Fazei tudo o que Ele vos disser'. Por este motivo também, não é então sem razão que a Igreja a chama de Mãe do Bom Conselho. Não só ela foi Mãe do Conselho de Deus Altíssimo, como é mãe que continuamente só nos comunica bons conselhos e aspirações.

Mostra então o Evangelho que Nossa Senhora pediu o milagre. Cristo o realizou, Os Apóstolos o testemunharam.

Prossegue o relato do evangelista dizendo que havia lá seis talhas de pedra preparadas para as purificações dos judeus, cada uma delas com duas ou três medidas, e que Cristo ordenou que as enchessem de água. É essa água que Jesus vai transformar em vinho.

São Tomás indaga por que Cristo quis usar água para fazer o milagre. Não poderia Ele ter feito o vinho do nada ? Claro que sim.

Portanto, se Ele usou a água foi por alguma sábia razão.

São Tomás excogita as seguintes razões para isso:

1ª Para demonstrar que a matéria é boa, ao contrário do que ensinariam os hereges gnósticos de todos os tempos ( maniqueus, cátaros e budistas);
2ª Para nos mostrar que, assim como Ele tinha poder de transformar a água em vinho, tinha também poder de transubstanciar o pão e o vinho em seu corpo, sangue, alma e divindade;
3ª Para nos fazer entender que Ele não vinha trazer uma doutrina nova, mas que o seu ensinamento era apenas o aperfeiçoamento do que Deus ensinara no Antigo Testamento. ( Cfr. São Tomás, Comentário..., Cap. II , Lição I, nº 358, ed. Cit. Vol. I, p.339).


Que símbolos contém a água ?

É certo que a água, de um lado simboliza a humildade, pois assim como a água escorre procurando sempre o lugar mais baixo, assim também quem é humilde busca sempre as posições mais baixas e nunca as mais altas. Se a água sobe aos céus é apenas em forma de vapor aquecida pelo Sol. Pois assim também, quem é humilde e busca os lugares mais baixos, é exaltado pelo ardor do amor de Deus que eleva os humildes acima das nuvens.

Por outro lado a água se adapta a todos os recipientes, simbolizando por isso as pessoas cordatas e mansas que não procuram impor-se mas que aceitam tudo o que lhes acontece como vontade de Deus.

E nossa irmã água – como poeticamente a chama São Francisco – 'è umile ed utile, et pretiosa et casta' (S. Francisco, Cântico das criaturas).

Todo símbolo, porém, é ambíguo. E São Tomás nos aponta outro símbolos postos por Deus na água. O Aquinate nos lembra que a água é um elemento frio e instável que, de si, corre sempre para os lugares mais baixos, até chegar no abismo do mar amargo. Ela representa, assim, os pecadores que friamente caem de pecado em pecado, de abismo em abismo, até se precipitarem, afinal, no amargo abismo do inferno.

As águas das talhas de Caná representam ainda os sacrifícios dos judeus no Antigo Testamento, que eram apenas imagens do Sacrifício do Novo Testamento. Os sacrifícios judaicos, eram ofertados por um povo que deixara a reta via, que matara os profetas e ia matar cristo o filho herdeiro da vinha. Essas águas representam então os pecados dos judeus que encheram até a borda os seus corações de pedra. Pois está dito que os servos dos noivos encheram as hidras até as bordas.

Por outro lado, foi Cristo que mandou encher as talhas. Portanto, elas estavam vazias. E essas hidras eram usadas, como dissemos, para as purificações judaicas. Elas estavam vazias, porque os judeus tinham seus corações de pedra vazios de qualquer arrependimento. Eram hidras vazias, porque as águas da purificação judaica eram mero símbolo das futuras águas do batismo que, elas sim, trazem a verdadeira e inteira purificação da culpa original.

Cristo mandou, então, encher as talhas de água, isto é, que os pecadores -- de coração duro como pedra – enchessem esses corações , até a borda, com as lágrimas do arrependimento. E os servos seguiram o conselho da Virgem Maria e obedeceram a ordem do Verbo encarnado, e, por isso, lhes foi dado beberem o vinho excelente do milagre de nosso Senhor Jesus Cristo.

Eles eram servos, porque eram judeus, filhos da escrava, filhos da Sinagoga. Mas os aceitam serem purificados nas águas do batismo e nas lágrimas de um arrependimento sincero, estes serão chamados filhos, e eles beberão o sangue do Cordeiro celestial. Eles tomarão o cálice do sangue de Cristo, vinho da Nova Lei, vinho que aquece e que traz a alegria e o fervor do perdão, da graça e o ardor do amor de Deus, e o zelo pela virtude.

Eram seis as hidras de pedra em Caná. Seis, porque, ao criar o mundo, Deus usou seis dias e ao cabo desses seis dias, estabeleceu sua primeira aliança com os homens, e instituiu o primeiro casamento, ordenado a Adão e Eva que se multiplicassem.

Eram seis as hidras de pedra em Caná, e, comenta Hugo de São Victor que eram seis para representar também as seis idades do mundo, desde a origem até Cristo. E o grande São Tomás repete essa explicação do abade de São Victor, relacionando as seis talhas com as seis idades da história do homem.


Essa divisão da História em seis idades, desde Adão até o fim dos tempos – e que daremos a seguir – teve uma aplicação errônea nos escritos de Joaquim de Fiore, pai de tantas heresias milenaristas e escatológicas. Feitas, porém, as prudentes e necessárias ressalvas, de si, ela não é condenável, e, por isso, as citaremos na ordem e correspondência das idades do homem, conforme a exposição de Hugo de São Victor.


Foi no sexto dia que Deus criou Adão e Eva, revelou-se a eles, e ordenou que se multiplicassem, dando-lhes a lei que proibia comer o fruta da árvore do conhecimento do bem e do mal. Assim também, na sexta idade, o Filho de Deus se tornou homem, instituiu o matrimônio como sacramento, fundou a Igreja, dando-lhe a lei evangélica. Na sexta idade se deu a Redenção.

Convém salientar que, segundo esse esquema das idades da História – ao contrário do esquema joaquimita que era milenarista – a sétima idade, a do repouso, está além deste mundo, além da História. O Abade De San Giovanni in Fiore com todos os eus seguidores quiliásticos, pelo contrário, esperam um reino de Deus, religiosos político e social, ainda neste mundo . Hugo de São Victor afirma que a sexta idade vai até o fim do mundo, e que, portanto, não haverá um Reino de Deus neste mundo, porque Cristo afirmou: 'Meu Reino não é deste mundo' (Jo. XVIII, 36).

Conforme diz Hugo de São Victor, as seis hidras de pedra das bodas de Caná representam ainda os cinco sentidos corporais e o senso interior que unifica as informações dos cinco sentidos. As seis hidras da purificação continham as águas que purificavam os pecados de nossos seis sentidos.

Enfim, convém fazer referência ao fato de que as hidras eram seis porque, além do sacramento do matrimônio instituído então por Cristo, em Caná, Ele ia nos dar mais seis sacramentos, que conteriam o vinho da graça, capaz de nos dar o vigor, o calor e a doçura, para enfrentarmos as dificuldades morais nas várias situações e dificuldades de nossa vida espiritual. É possível interpretar também as seis hidras como seis sacramentos, sendo o sétimo, a Eucaristia, aquele que nos dá o próprio Cristo com seu corpo, sangue, alma e divindade, representado pela próprio Jesus Cristo, presente em Caná.

Está dito ainda no Evangelho que cada hidra continha duas ou três medidas, porque cada sacramento nos dá uma graça sacramental, própria de cada sacramento, além do aumento da vida da graça em nós, o que perfaz duas medidas. Mas, três sacramentos – Batismo, Crisma e Ordem – além da graça sacramental própria e do aumento da vida da graça santificaste, imprimem caráter em nossas almas, o que perfaz a terceira medida.

Hugo de São Victor ensina que as hidras tinham duas ou três medidas, porque elas estavam destinadas a conter as águas da purificação. Ora, nas tentações que nos podem levar a pecado, pode-se distinguir:

1º -- A deleitação, na sugestão pecaminosa;

2º -- O pleno conhecimento e pleno consentimento da vontade;


3º -- A própria obra pecaminosa.

Ora, conforme falte gravidade da matéria de pecado, ou pleno conhecimento e pleno consentimento, o pecado será venial e não mortal. Por isso, o arrependimento deve também conter duas ou três medidas.

E as seis hidras eram de pedra, porque nossos sentidos são empedernidos por nossas culpas, e nós só as lavamos quando as enchemos com as lágrimas de nosso arrependimento e de compunção. E as águas são convertidas em vinho, porque o pranto da culpa é convertido pelo perdão na alegria trazida pelo vinho da graça.

Hidras de pedra – porque a Igreja é de Pedro e contém firmemente as graças do Vinho Eucarístico.

São Tomás de Aquino faz outro comentário ainda, e muito curioso, sobre o significado das seis urnas dos judeus, que Cristo ordenou que fossem cheias de água. Diz ele que 'no sentido místico [ é preciso compreender que] nas núpcias espirituais, a Mãe de Jesus, a Virgem bem-aventurada, está presente na qualidade de conselheira das núpcias, porque é por sua intercessão que somos unidos a Cristo pela graça' (Op. Cit. Cap. II , Lição I, , nº 343; ed. Cit. Vol I, p.328).

De outro lado, a pedra das hidras representaria os judeus enquanto as águas seriam os gentios. O vazio das hidras e seu preenchimento pela águas significaria a substituição dos judeus pelos gentios , no Novo Testamento.

E por que as águas, elemento líquido, seriam os gentios, e a pedra - ou a terra, o elemento sólido, os judeus ?

Várias passagens da Escritura indicam isto. Por exemplo, o nome de Moisés, significa 'Salvo das águas', não só porque ele foi salvo das águas do rio Nilo, como também porque ele foi salvo do egípcios que eram gentios.

Também, durante o êxodo, ao chegarem a Mara, os judeus só encontraram águas amargas, isto é, salobras e impróprias para saciarem a sede. Porém, quando Moisés lançou nelas o seu bastão de madeira, elas ficaram doces e potáveis. Por que isto ? Porque as águas – os gentios – que não eram 'potáveis' para Deus por causa de sua idolatria, tornaram-se doces e potáveis, quando nelas foi lançado o madeiro da cruz de Cristo. Por isso também, Cristo caminhou sobre as águas e ordenou a Pedro que fizesse o mesmo. E Pedro duvidou e começou a afundar, para representar que, em certo momento, ele duvidou da legitimidade do apostolado com os gentios e 'judaizou' na questão das carnes proibidas, e , por isso, foi repreendido por São Paulo.

O arquitriclínio experimentou o vinho miraculoso de Cristo e o julgou excelente. Não conhecendo ainda a sua origem miraculosa, falou de sua estranheza ao noivo, dizendo-lhe que, normalmente, os homens servem primeiro o vinho melhor, e depois que os convidados já estão satisfeitos, servem então o pior.

Evidentemente, servir o vinho pior no final da festa não pode ser a norma de Deus., porque envolve falta de generosidade e uma certa astúcia. A cias de Deus não são as vias dos homens. Deus nos dá primeiramente o vinho pior – as agruras e as cruzes da vida - para, depois, nos dar o vinho generoso e perfeito da festa celestial, por toda a eternidade. Antes, temos que tomar o caminho estreito e pedregoso, para, depois, recebermos nossa recompensa imensamente grande, que será o próprio Cristo. Antes, Ele deu aos judeus o vinho do Antigo Testamento, que era apenas um prenúncio do 'vinho' eucarístico, que é o próprio sangue de Cristo.

Desse 'vinho' melhor, o arquitriclínio não compreendeu a origem, pois não vira o milagre. Assim também, do Messias, os judeus ignoravam a sua origem, e, por isso, lhe perguntavam : 'De onde vens Tu ? ' ( ).

E Cristo lhes dizia: 'Vós não sabeis de onde Eu venho' ( Jo. VIII,14).

Desse modo os judeus não conheciam a origem divina do Verbo, por sua geração eterna no seio de Deus Pai, nem sua encarnação no seio virginal de Maria Santíssima. E, quando Ele a exprimiu, eles recusaram aceitá-la, e tomaram pedras para matá-Lo ( Cfr. ). Por isso os judeus, desconhecendo a origem divina do Messias não receberam, porque não quiseram, o vinho de sua graça.

Também os noivos de Caná não sabiam explicar ao arquitriclínio a origem do vinho superior, e porque ele fora servido só no final da festa.

Estes noivos representam a Sinagoga, que desconheceu a Cristo e o crucificou, porque inebriada pelo vinho inferior, desejou com zelo apenas o reino neste mundo, e preferiu permanecer no exílio da 'Galiléia' , que significa, como vimos, transmigração ou exílio acabado. A Sinagoga amou apenas a letra da lei, e não espírito. E assim como no vinho inferior só se busca o inebriamento do álcool, sem ter nenhuma doçura superior, assim também, a letra da lei mata, impedindo que o espírito das Escrituras seja conhecido e vivifique e inebrie a alma pela doçura da sua Sabedoria.

Pois Cristo veio ao mundo para que tivéssemos vida e saúde em abundância. Para isto, Ele veio fundar a Igreja, geradora dos filhos de Deus com Cristo, para a vida eterna. Igreja fundada na pedra, e na qual Cristo faz jorrar o vinho excelente de suas graças, enchendo até a borda os corações dos fiéis.

Finalmente, convém lembrar que as hidras eram de pedra e estavam vazias, porque o homem é feito de barro, e que a pedra é 'barro', isto é, mineral endurecido. Era Adão, o homem pecador que estava petrificado pelo pecado original, e vazio de graça e vida espiritual. Como já vimos, eram seis as hidras vazias, porque seis eram as idades do mundo, que haviam passado até Cristo vir para realizar suas núpcias com a sua Igreja.

A hidra vazia é, então, o homem morto pelo pecado ao qual Cristo devolveu a graça. A hidra vazia é também o homem santo e que morreu materialmente, para quem, no fim do mundo, Cristo ressuscitará com um corpo glorioso e tendo um nova vida, superior a que perdera.

A hidra vazia é, enfim, Cristo morto para pagar os nossos pecados, e que pela ressurreição, venceu a morte, e tornou a encher nossas almas de vida. 'Et ressurrexit tertia die'. E, por isso, tudo isto que se fez em Caná aconteceu 'in die tertia'

'Tal foi o primeiro dos milagres de Cristo ', diz São João, a fim de condenar os falsos milagre atribuídos a Cristo, quando ainda menino, conforme contam mentirosamente os Evangelhos Apócrifos ( Cfr. São Tomás, op. Cit Cap. II Lição I, nº 364; ed. Cit. Vol I, p.343).

O milagre de Caná foi o início dos milagres de Cristo que culminaram com a sua gloriosa Ressurreição. Depois disto, Ele se manifestou gloriosamente a seus Apóstolos, que creram nEle. Por isso está escrito: 'Por este modo deu Jesus princípio aos seus milagres em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nEle'.

Depois da Ressurreição e da Ascensão aos céus, os Apóstolos se espalharam pelo mundo, pregando a Cristo crucificado que ressuscitou dos mortos. A Igreja Católica – cuja cabeça é Cristo – iniciou sua trajetória de missões, martírios, de polêmicas e de cruzadas, levando o nome de Cristo Jesus até os confins da terra, sempre assistida pela Virgem Maria e pelas preces da Igreja triunfante, no céu.

Por isso, a narração do milagre de Caná conclui com as seguintes palavras:

'Depois disto, foi para Cafarnaum, Ele e sua Mãe, seus irmãos e seus discípulos – toda a Igreja – mas não demoraram lá muitos dias' ( Jo II,12).

Comparados com a eternidade, poucos são os dias da História entre a Ressurreição e o Juízo, entre 'Tertia die' 'et novissima die'


Amen . Veni, Domine Jesu !

MONTFORT Associação Cultural