A
liturgia de hoje nos mostra que, por cerca de três anos Jesus exerceu seu
ministério na Galileia e nas regiões gentílicas vizinhas. No momento oportuno,
Jesus decide ir a Jerusalém por ocasião da festa da Páscoa dos judeus, onde se
dá o confronto com sistema do Templo, que o levará à morte. Após expulsar
aqueles que comerciavam no Templo, denunciando que este Templo se tornara um
covil de ladrões, dirige aos chefes dos sacerdotes e aos proprietários de
terras as duras parábolas dos vinhateiros homicidas e a do banquete nupcial.
Estas parábolas retratam o distanciamento destes chefes de Israel em relação a
Deus. O clima é de um conflito com chefes dos sacerdotes, fariseus, e anciãos,
que se amplia cada vez mais. Jesus é assediado pelos chefes religiosos, que
vêem nele um líder que ameaça o seu prestígio e poder. Não tendo o direito, sob
a dominação romana, de condenar ninguém, eles procuram motivo para que Jesus
seja condenado pelo próprio império romano. Estamos diante de uma trama para
apanhar Jesus em alguma palavra. Aos chefes religiosos juntam-se os herodianos.
Estes eram adeptos da realeza, os aliados mais próximos e servis de Herodes,
preposto de César. Dirigem-se a Jesus com um acúmulo de elogios que já deixam
transparecer a falsidade. São palavras cheias de malícia. Pretendem remover qualquer
inibição ou bloqueio de Jesus afim de que ele fale realmente o que pensa!
Perguntam se devem pagar o imposto a César. Esperavam uma resposta negativa, um
ato de insubordinação, o que lhe mereceria a condenação por parte dos prepostos
do império romano. A imposição de pesados impostos à Judéia já fora causa de
uma revolta liderada por Judas, o Galileu, cerca de vinte e cinco anos antes.
Jesus, realmente, diz o que pensa: chama-os de hipócritas e denuncia sua
maldade em procurar armar-lhe ciladas. Mais adiante (Mt 23,01-32) ele voltará a
denunciar detalhadamente a hipocrisia destes chefes religiosos da Judéia. Jesus
pede que lhe mostrem a moeda do imposto. Este devia ser pago em moeda romana, o
denário. As moedas, correntes no comércio, eram os "out-doors" de
propaganda do império, cunhadas com imagens e inscrições que exaltavam o
imperador. De maneira pedagógica Jesus pergunta aos seus questionadores de quem
é a figura e a inscrição na moeda. Diante da moeda cunhada com a cabeça de
César e com a inscrição: "Filho Augusto e Divino", Jesus devolve a
pergunta: "De quem é esta figura e a inscrição?". Com a confirmação
de que é de César Jesus conclui: "Devolvei, pois, a César o que é de César
e a Deus, o que é de Deus". À questão sobre o "pagar" Jesus
responde com o "devolver". A sutil resposta de Jesus, em primeiro
lugar, separando Cesar de Deus, remove o caráter divino do imperador. César é
diferente de Deus. César é a ambição do dinheiro e do poder. Deus é
misericórdia, amor e vida. Libertar-se do dinheiro e comprometer-se com Deus, é
o projeto de Jesus. Por outro lado Jesus, com sua resposta, devolve a questão
aos seus provocadores. Cabe a eles julgarem o que é de César e o que é de Deus.
Sem dúvida poderão perceber que devolver a César o que é de César é erradicar
de suas mentes toda ambição de riqueza e a idolatria do dinheiro. Devolver a
Deus o que é de Deus é libertar seu povo e promover-lhe a vida, o que é a
verdadeira expressão do amor de Deus.
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