segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Se todas as pessoas sabem os mandamentos, então por que elas pecam?


Os 10 mandamentos nos falam das “regras” e contribuem para uma boa convivência, onde nós não ferimos ninguém e nem somos feridos por ninguém. Seja no trânsito, seja na vida.

Mas, será que devemos considerar os 10 mandamentos apenas como “A Grande Tábua das Regras”? Será que devemos deixar de fazer coisas apenas porque “a nossa religião não permite”?

Para responder essas perguntas, podemos olhar para as nossas próprias vidas, para as coisas corriqueiras, coisas (ou regras) que certamente você nem percebe que estão lá, mas estão.

Por exemplo: com que  frequência você costuma colocar o dedo em uma tomada?

Pergunta estranha, não?

É óbvio que você não tem o costume de colocar o dedo na tomada! (Não é?)

Não sei se você se lembra, mas algum dia alguém te disse que você não podia colocar o dedo na tomada. Sem te dar muitas explicações. No máximo, te disseram que dava choque e pronto.

E essa era apenas uma regra que você tinha que seguir. Não foi assim?

Pois eu vou te dizer o que aconteceu comigo: tinha eu 6 ou 7 anos de idade, e eu estava sozinho no quarto quando percebi que havia um plug no chão. Um plug de tomada, desencapado, com os fios à mostra. Então eu não tive dúvida, havia chegado a hora de eu transgredir a regra e descobrir o que era “o tal do choque”, na realidade. Enfiei o plug na tomada e coloquei o meu dedo na parte desencapada… e obviamente levei o maior choque! (hehehe).

Pronto! Agora eu sabia o que significava a palavra “choque”, e depois disso nunca mais coloquei o dedo na tomada.

Mas de toda essa história eu aprendi algo valioso, algo que eu só pude entender depois de adulto e consciente dos meus atos: eu só coloquei o dedo na tomada porque alguém me disse que eu não poderia fazer isso. Porque, se ninguém nunca me tivesse dito isso, jamais passaria pela minha cabeça a ideia insana de fazer tal coisa! Mas algum dia, alguém querendo me prevenir, me ditou uma regra, e justamente essa regra – que deveria me manter longe do perigo – que me instigou a fazer algo errado.

Incrível, não?

Eu tenho certeza de que algum dia isso aconteceu na sua vida também: alguém (seja a sua mãe, sua religião ou a sociedade) te proibiu de fazer algo, e essa proibição que era pra ser algo bom, que te protegia (como comentamos no primeiro texto da série) acabou te levando para a transgressão.

Certamente você já ultrapassou o limite de velocidade de alguma avenida, ou tentou ter acesso a alguma revista pornográfica antes de completar dezoito anos só porque alguém te disse que isso era proibido. Ou então você foi mais além: já transou com uma mulher/um homem compromissado, ou já fez isso sendo você o compromissado, só porque “o proibido parecia ser mais gostoso”. Ou talvez você tenha ido ainda mais além: de tanto alguém dizer que é proibido fumar maconha, você teve que fumar pela primeira vez para matar a curiosidade.

Viu, somos iguais! Não interessa se você enfiou o dedo na tomada ou se você se “enfiou uma amante dentro de casa”. Você fez isso por outros motivos, óbvio! Mas também porque algum dia alguém te disse que isso era proibido, e essa regra despertou em você uma curiosidade, um desejo por fazer aquilo.

Há 2 mil anos, o apóstolo Paulo já havia percebido isso, e um dia ele comentou isso em uma carta que ele enviou à igreja de Roma:

“Que diremos então? A lei é pecado? De maneira nenhuma! De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a lei não dissesse: “Não cobiçarás”. Mas o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, produziu em mim todo tipo de desejo cobiçoso. Pois, sem a lei, o pecado está morto.” (Romanos 7, 7-8)

Esse é um efeito colateral da lei. Sem querer, ela acaba nos apresentando o pecado quando nos diz “não faça isso”. Assim como no meu caso do plug da tomada: eu nem sabia que era possível enfiar o dedo na tomada, até que algum dia alguém querendo me prevenir de um mal acabou me “dando a ideia”.

Mas a lei em si não nos faz pecar. Óbvio que não! Pois a lei, apesar de me apresentar a cobiça, por exemplo, ela não me manda cobiçar. Pelo contrário, ela me proíbe, e me dá motivos para que eu siga sua proibição.

Então, por que eu peco, mesmo conhecendo a lei de Deus?

Leia com atenção esse trecho que Paulo escreveu aos Romanos:

“Mas o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, produziu em mim todo tipo de desejo cobiçoso. Pois, sem a lei, o pecado está morto. Antes, eu vivia sem a lei, mas quando o mandamento veio, o pecado reviveu, e eu morri. Descobri que o próprio mandamento, destinado a produzir vida, na verdade produziu morte. Pois o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, enganou-me e por meio do mandamento me matou. De fato a lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom. E então, o que é bom se tornou em morte para mim? De maneira nenhuma! Mas, para que o pecado se mostrasse como pecado, ele produziu morte em mim por meio do que era bom, de modo que por meio do mandamento ele se mostrasse extremamente pecaminoso.” (Romanos 7, 8-13)
Nesse trecho, Paulo ilustra o pecado com um ser independente, como alguém que vive dentro de mim, tem vontades próprias e ainda consegue me convencer das suas vontades. Repare que ele atribui ações ao pecado. Ele diz que “o pecado produziu”, “o pecado reviveu”, “o pecado me enganou”. É como se o pecado fosse uma outra pessoa dentro de mim. E pior: uma pessoa capaz de dominar minhas vontades.

Tiago também nos dá uma definição de pecado que nos dá medo:

“Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: “Estou sendo tentado por Deus”. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte.” (Tiago 1, 13-15)
Tiago afirma que a cobiça nos arrasta e nos seduz, ou seja, ela nos convence do pecado. E depois disso, ela dá luz, ou seja, gera o pecado, que se consuma e nos mata.

Nós, homens sabemos muito bem como isso se dá. Somos facilmente seduzidos pelo nosso olhar, assim como as mulheres são facilmente seduzidas pelas palavras.

Imagine que eu estou tranquilamente navegando no meu perfil em uma rede social qualquer quando através de um compartilhamento de um amigo, ou de uma propaganda ou post de uma página, chega até mim a imagem de uma mulher seminua em uma pose sugestiva, e um link em azul, pedindo para ser clicado. Eu sei que não devo: seja porque sou cristão, seja porque tem muita gente ainda acordada em casa, ou então pelo risco de infectar meu computador com algum tipo de vírus.

Enquanto isso, imagine uma mulher – descontente com seu casamento e com a forma grosseira que o seu marido a trata – recebendo um buquê de flores e um lindo cartão com palavras sedutoras do chefe no trabalho. Ela também sabe que não deve ceder a tentação, porque é mãe, ou porque a sociedade e a sua religião a condenaria.

Durante algumas frações de segundos, uma guerra acontece em nossa mente: sabemos que não podemos, mas sabemos que nós queremos.

Queremos… presta atenção nesta palavra. Pois é ela que representa a “cobiça” (ou concupiscência) da qual Tiago fala. A nossa inclinação por tudo aquilo que é terreno, por satisfazer imediatamente qualquer prazer do nosso corpo, independentemente da existência de regras que proíbam ou regulam esse ato. É a cobiça sexual por uma mulher, ou por pisar mais fundo no acelerador ou até mesmo por romper a dieta. Qualquer coisa que satisfaça o nosso corpo, que lhe dê algum prazer.

É nesse momento que somos “arrastados e seduzidos”. É nesse momento que nos é mostrado todas as vantagens que teremos ao ceder a tentação. Assim como aconteceu com o próprio Jesus, que foi “arrastado” até o monte e sofreu a oferta de sedução do diabo:

“Depois, o diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E lhe disse: “Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar”. (Mateus 4, 8-9)
 
Uma vez seduzidos, acabamos cedendo a tentação, e é nessa hora que a “cobiça dá a luz ao pecado”. Quando menos percebo, já estou naquele site impróprio, vendo imagens que sei que não deveria estar vendo. Mesmo que eu tenha o conhecimento da regra “não verás pornografia”, mesmo que eu saiba de todo o mal que a pornografia pode causar em meu casamento, mesmo que eu saiba todos os números e dados que retrata a calamidade que é o problema da exploração sexual de mulheres, mesmo que eu tenha dezenas de versículos decorados, mesmo que eu seja o escritor do “Porque pecar é pecado”, nada disso importa, e nada disso é o suficiente. Na verdade, eu vou me lembrar de tudo isso e vou desejar fechar aquela página imediatamente, mas aquela “guerrinha” vai acontecer de novo, e eu vou perder, e vou acessar mais uma foto. E mais uma… e mais uma…. e ainda outra… e quando eu perceber, já estarei a horas preso a um site de pornografia. Morto. Logo serei acusado pelo mesmo diabo que me levou para lá. Serei julgado e condenado indigno de ser cristão, de ser humano, cidadão, marido e escritor do “Porque pecar é pecado”. Talvez eu jamais me recupere. Talvez então eu não me ache mais em condições de continuar escrevendo um livro sobre pecado. E as minhas noites em frente a um computador se resumirá ao prazer falso de mulheres feitas por pixels de computador. Livro incompleto, casamento caminhando para a destruição, caráter de cidadão indo por água a baixo… Essa é a morte da qual Tiago tanto falou.

Assim como a mulher da nossa história: uma vez seduzida pelas lindas palavras do seu chefe, será arrastada até o motel combinado no bilhete. Ela não foi arrastada pelo seu chefe, nem pela situação precária do seu casamento, tampouco pela necessidade de declarar o direito da liberdade feminina. Como disse Tiago, ela foi arrastada pela cobiça. Repare, ela não foi andando, ela foi arrastada. Ela chegou até aquele motel, e a cobiça de saber se ela ainda era mulher o suficiente na cama, talvez para aliviar sua consciência diante do seu marido ruim, ou então a cobiça de ser amada, ou simplesmente a cobiça de “gozar” acabou dando a luz ao pecado do adultério: uma bela e tórrida tarde de sexo. Uma tarde tórrida, mas depois daquela tarde ela será julgada e condenada, considerada indigna de ser mãe, mulher, esposa, funcionária. Antes de ser taxada pelos piores nomes pela sociedade, ela será taxada por ela mesma, pela consciência do certo e do errado que ela tem em si.

Tá vendo? Nos dois exemplos acima, tínhamos a consciência do certo e do errado. Tínhamos a lei, a regra. Mas nada disso foi suficiente para nos livrar. Fomos arrastados e seduzidos até o pecado, sem ao menos poder exercer o nosso direito de escolha. Escravizados, como já disse aqui em capítulos anteriores. Algemados e levados até o pecado.

E é assim que o jovem que tenta sair da droga não consegue. É assim que o homem “mulherengo” não consegue mudar de vida, mesmo sabendo que agora tem mulher e filhos. É assim que o ex-presidiário acaba voltando para o crime, mesmo quando quer viver vida nova. E é assim que até mesmo aquele renomado pastor não resiste ao olhar para os cofres cada vez mais cheios da sua igreja, e acaba cedendo.

Que guerra é essa! Sabemos o que é certo, queremos fazer o certo, mas ainda assim fazemos o errado!

Paulo já falava sobre isso em Romanos 7. Leia com atenção:

“Sabemos que a lei é espiritual; eu, contudo, não o sou, pois fui vendido como escravo ao pecado. Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, admito que a lei é boa. Neste caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando quero fazer o bem, o mal está junto a mim. Pois, no íntimo do meu ser tenho prazer na lei de Deus; mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros.” (Romanos 7, 14-23)
E Paulo, que era um dos maiores pregadores que já existiu falava isso dele mesmo. Ele, Paulo, olhava para si e via tudo isso.

E, após fazer essa análise, Paulo termina o capítulo com uma frase dura, se considerando miserável:

“Miserável homem eu que sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?” (Romanos 7, 24)
Que miserável que somos! Quem nos libertará do corpo sujeito a esta morte ?


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Exaltação da Santa Cruz

 
Quando exaltamos a santa cruz, exaltamos o próprio Cristo
 
A Festa da Exaltação da Santa Cruz, celebrada pela Igreja no dia 14 de setembro, nos faz recordar que por meio dela Cristo foi exaltado e vencedor. Para os cristãos a cruz é o maior símbolo da fé, por intermédio do sinal da cruz somos marcamos no nosso batismo como filhos de Deus, pertencentes a Jesus Cristo.
 
Conta-se, segundo a tradição cristã, que durante uma peregrinação a Jerusalém, Santa Helena mandou fazer pesquisas para encontrar a verdadeira cruz de Cristo. E ordenou que fosse construída a Igreja do Santo Sepulcro no local em que o objeto-símbolo de nossa salvação foi encontrado. No dia 14 de setembro daquele ano a cruz foi posta em exposição para que os fiéis pudessem orar diante dela e venerá-la.

Reverenciar a cruz é ter a certeza de que reverenciamos não apenas um objeto, mas Nosso Salvador Jesus Cristo, que, por amor a nós, deixou-se crucificar para que vencêssemos a morte causada pelo pecado. A cruz serviu de altar para o sacrifício de Jesus. “Se fizermos o sinal da cruz com fé, ele será para nós um escudo”, escreveu Santo Hipólito.


A Festa da Exaltação da Santa Cruz, é a Festa da Exaltação do Cristo vencedor. Para nós cristãos, a cruz é o maior símbolo de nossa fé, cujos traços nós nos persignamos desde o início do dia, quando levantamos, até o fim da noite ao deitarmos. Quando somos apresentados à comunidade cristã, na cerimônia batismal, o primeiro sinal de acolhida é o sinal da cruz traçado em nossa fronte pelo padre, pais e padrinhos, assinalando-nos para sempre com Cristo.

A Cruz recorda o Cristo crucificado, o seu sacrifício, o seu martírio que nos trouxe a salvação. Assim sendo, a Igreja há muito tempo passou a celebrar, exaltar e venerar a Cruz, inclusive como símbolo da árvore da vida que se contrapõe à árvore do pecado no paraíso, quando a serpente do paraíso trouxe a morte, a infelicidade a este mundo, incitando os pais a provarem o fruto da árvore proibida. (Gn 3,17-19)

No deserto, a serpente também provocou a morte dos filhos de Israel, que reclamavam contra Deus e contra Moisés (Nm 21,4-6). Arrependendo-se do seu pecado, o povo pediu a Moisés que intercedesse junto ao Senhor para livrá-los das serpentes. Assim, o Senhor, com sua bondade infinita, ordenou a Moisés que erguesse no centro do acampamento um poste de madeira com uma serpente de bronze pendurada no alto, dizendo que todo aquele que dirigisse seu olhar para a serpente de bronze se curaria. (Nm 21,8-9)

Esses símbolos do passado, muito conhecidos pelo povo (serpente, árvore, pecado, morte), nos dizem que na Festa da Exaltação da Santa Cruz, no lugar da serpente de bronze pendurado no alto de um poste de madeira, encontramos o próprio Jesus levantado no lenho da Cruz. Se o pecado e a morte tiveram sua entrada neste mundo através do demônio (serpente do paraíso) e do deserto, a bênção, a salvação e a vida eterna vêm do Cristo levantado no alto da Cruz, de onde Ele atrai para si os olhares de toda a humanidade. Assim, a Igreja canta na Liturgia Eucarística de Festa: “Santa Cruz adorável, de onde a vida brotou, nós, por Ti redimidos, te cantamos louvor!”

A Cruz não é uma divindade, um ídolo feito de madeira, barro ou bronze, mas sim, santa e sagrada, onde pendeu o Salvador do mundo. Traçando o sinal da cruz em nossa fronte, a todo o momento nós louvamos e bendizemos a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo, agradecendo o tão grande bem e amor que, pela CRUZ, o Senhor continua a derramar sobre nós.

Devemos vê-la não como um amuleto, mas como um símbolo santo e sagrado, no qual encontramos a salvação. Quando fazemos o sinal da cruz com fé, respeito e amor nós estamos louvando e bendizendo a Santíssima Trindade e nos protegendo contra o inimigo de Deus.

Quando exaltamos a santa cruz, exaltamos o próprio Cristo e proclamamos a vitória sobre o pecado. Pela cruz, que significa morte das próprias vontades, humilhação e obediência à vontade de Deus, nos santificamos, pois deixamos o nosso querer de lado para obedecer aos desígnios de Deus.

Exaltemos a santa cruz de Cristo, Nosso Salvador!