Os 10 mandamentos nos falam das “regras” e contribuem para uma boa convivência, onde
nós não ferimos ninguém e nem somos feridos por ninguém. Seja no
trânsito, seja na vida.
Mas, será que devemos considerar os 10 mandamentos apenas como “A Grande Tábua das Regras”? Será que devemos deixar de
fazer coisas apenas porque “a nossa religião não permite”?
Para responder essas perguntas, podemos
olhar para as nossas próprias vidas, para as coisas corriqueiras, coisas
(ou regras) que certamente você nem percebe que estão lá, mas estão.
Por exemplo: com que frequência você costuma colocar o dedo em uma tomada?
Pergunta estranha, não?
É óbvio que você não tem o costume de colocar o dedo na tomada! (Não é?)
Não sei se você se lembra, mas algum dia alguém te disse que você não podia colocar o dedo na tomada. Sem te dar muitas explicações. No máximo, te disseram que dava choque e pronto.
E essa era apenas uma regra que você tinha que seguir. Não foi assim?
Pois eu vou te dizer o que aconteceu
comigo: tinha eu 6 ou 7 anos de idade, e eu estava sozinho no quarto
quando percebi que havia um plug no chão. Um plug de tomada,
desencapado, com os fios à mostra. Então eu não tive dúvida, havia
chegado a hora de eu transgredir a regra e descobrir o que era “o tal do
choque”, na realidade. Enfiei o plug na tomada e coloquei o meu dedo na
parte desencapada… e obviamente levei o maior choque! (hehehe).
Pronto! Agora eu sabia o que significava a palavra “choque”, e depois disso nunca mais coloquei o dedo na tomada.
Mas de toda essa história eu aprendi algo
valioso, algo que eu só pude entender depois de adulto e consciente dos
meus atos: eu só coloquei o dedo na tomada porque alguém me disse que
eu não poderia fazer isso. Porque, se ninguém nunca me tivesse dito
isso, jamais passaria pela minha cabeça a ideia insana de fazer tal
coisa! Mas algum dia, alguém querendo me prevenir, me ditou uma regra, e
justamente essa regra – que deveria me manter longe do perigo – que me
instigou a fazer algo errado.
Incrível, não?
Eu tenho certeza de que algum dia isso
aconteceu na sua vida também: alguém (seja a sua mãe, sua religião ou a
sociedade) te proibiu de fazer algo, e essa proibição que era pra ser
algo bom, que te protegia (como comentamos no primeiro texto da série)
acabou te levando para a transgressão.
Certamente você já ultrapassou o limite
de velocidade de alguma avenida, ou tentou ter acesso a alguma revista
pornográfica antes de completar dezoito anos só porque alguém te disse
que isso era proibido. Ou então você foi mais além: já transou com uma
mulher/um homem compromissado, ou já fez isso sendo você o
compromissado, só porque “o proibido parecia ser mais gostoso”. Ou
talvez você tenha ido ainda mais além: de tanto alguém dizer que é
proibido fumar maconha, você teve que fumar pela primeira vez para matar
a curiosidade.
Viu, somos iguais! Não interessa se você
enfiou o dedo na tomada ou se você se “enfiou uma amante dentro de
casa”. Você fez isso por outros motivos, óbvio! Mas também porque algum
dia alguém te disse que isso era proibido, e essa regra despertou em
você uma curiosidade, um desejo por fazer aquilo.
Há 2 mil anos, o apóstolo Paulo já havia
percebido isso, e um dia ele comentou isso em uma carta que ele enviou à
igreja de Roma:
“Que diremos então? A lei é pecado? De maneira nenhuma! De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a lei não dissesse: “Não cobiçarás”. Mas o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, produziu em mim todo tipo de desejo cobiçoso. Pois, sem a lei, o pecado está morto.” (Romanos 7, 7-8)
Esse é um efeito colateral da lei. Sem querer, ela acaba nos apresentando o pecado quando nos diz “não faça isso”. Assim como no meu caso do plug da tomada: eu nem sabia que era possível enfiar o dedo na tomada, até que algum dia alguém querendo me prevenir de um mal acabou me “dando a ideia”.
Mas a lei em si não nos faz pecar. Óbvio
que não! Pois a lei, apesar de me apresentar a cobiça, por exemplo, ela
não me manda cobiçar. Pelo contrário, ela me proíbe, e me dá motivos
para que eu siga sua proibição.
Então, por que eu peco, mesmo conhecendo a lei de Deus?
Leia com atenção esse trecho que Paulo escreveu aos Romanos:
“Mas o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, produziu em mim todo tipo de desejo cobiçoso. Pois, sem a lei, o pecado está morto. Antes, eu vivia sem a lei, mas quando o mandamento veio, o pecado reviveu, e eu morri. Descobri que o próprio mandamento, destinado a produzir vida, na verdade produziu morte. Pois o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, enganou-me e por meio do mandamento me matou. De fato a lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom. E então, o que é bom se tornou em morte para mim? De maneira nenhuma! Mas, para que o pecado se mostrasse como pecado, ele produziu morte em mim por meio do que era bom, de modo que por meio do mandamento ele se mostrasse extremamente pecaminoso.” (Romanos 7, 8-13)
Nesse trecho, Paulo ilustra o pecado com
um ser independente, como alguém que vive dentro de mim, tem vontades
próprias e ainda consegue me convencer das suas vontades. Repare que ele
atribui ações ao pecado. Ele diz que “o pecado produziu”, “o pecado
reviveu”, “o pecado me enganou”. É como se o pecado fosse uma outra
pessoa dentro de mim. E pior: uma pessoa capaz de dominar minhas
vontades.
Tiago também nos dá uma definição de pecado que nos dá medo:
“Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: “Estou sendo tentado por Deus”. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte.” (Tiago 1, 13-15)
Tiago afirma que a cobiça nos arrasta e
nos seduz, ou seja, ela nos convence do pecado. E depois disso, ela dá
luz, ou seja, gera o pecado, que se consuma e nos mata.
Nós, homens sabemos muito bem como isso
se dá. Somos facilmente seduzidos pelo nosso olhar, assim como as
mulheres são facilmente seduzidas pelas palavras.
Imagine que eu estou tranquilamente
navegando no meu perfil em uma rede social qualquer quando através de um
compartilhamento de um amigo, ou de uma propaganda ou post de uma
página, chega até mim a imagem de uma mulher seminua em uma pose
sugestiva, e um link em azul, pedindo para ser clicado. Eu sei que não
devo: seja porque sou cristão, seja porque tem muita gente ainda
acordada em casa, ou então pelo risco de infectar meu computador com
algum tipo de vírus.
Enquanto isso, imagine uma mulher –
descontente com seu casamento e com a forma grosseira que o seu marido a
trata – recebendo um buquê de flores e um lindo cartão com palavras
sedutoras do chefe no trabalho. Ela também sabe que não deve ceder a
tentação, porque é mãe, ou porque a sociedade e a sua religião a
condenaria.
Durante algumas frações de segundos, uma guerra acontece em nossa mente: sabemos que não podemos, mas sabemos que nós queremos.
Queremos… presta atenção nesta palavra.
Pois é ela que representa a “cobiça” (ou concupiscência) da qual Tiago
fala. A nossa inclinação por tudo aquilo que é terreno, por satisfazer
imediatamente qualquer prazer do nosso corpo, independentemente da
existência de regras que proíbam ou regulam esse ato. É a cobiça sexual
por uma mulher, ou por pisar mais fundo no acelerador ou até mesmo por
romper a dieta. Qualquer coisa que satisfaça o nosso corpo, que lhe dê
algum prazer.
É nesse momento que somos “arrastados e
seduzidos”. É nesse momento que nos é mostrado todas as vantagens que
teremos ao ceder a tentação. Assim como aconteceu com o próprio Jesus,
que foi “arrastado” até o monte e sofreu a oferta de sedução do diabo:
“Depois, o diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E lhe disse: “Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar”. (Mateus 4, 8-9)
Uma vez seduzidos, acabamos cedendo a tentação, e é nessa hora que a
“cobiça dá a luz ao pecado”. Quando menos percebo, já estou naquele
site impróprio, vendo imagens que sei que não deveria estar vendo. Mesmo
que eu tenha o conhecimento da regra “não verás pornografia”, mesmo que
eu saiba de todo o mal que a pornografia pode causar em meu casamento,
mesmo que eu saiba todos os números e dados que retrata a calamidade que
é o problema da exploração sexual de mulheres, mesmo que eu tenha
dezenas de versículos decorados, mesmo que eu seja o escritor do “Porque
pecar é pecado”, nada disso importa, e nada disso é o suficiente. Na
verdade, eu vou me lembrar de tudo isso e vou desejar fechar aquela
página imediatamente, mas aquela “guerrinha” vai acontecer de novo, e eu
vou perder, e vou acessar mais uma foto. E mais uma… e mais uma…. e
ainda outra… e quando eu perceber, já estarei a horas preso a um site de
pornografia. Morto. Logo serei acusado pelo mesmo diabo que me levou
para lá. Serei julgado e condenado indigno de ser cristão, de ser
humano, cidadão, marido e escritor do “Porque pecar é pecado”. Talvez eu
jamais me recupere. Talvez então eu não me ache mais em condições de
continuar escrevendo um livro sobre pecado. E as minhas noites em frente
a um computador se resumirá ao prazer falso de mulheres feitas por
pixels de computador. Livro incompleto, casamento caminhando para a
destruição, caráter de cidadão indo por água a baixo… Essa é a morte da
qual Tiago tanto falou.
Assim como a mulher da nossa história:
uma vez seduzida pelas lindas palavras do seu chefe, será arrastada até o
motel combinado no bilhete. Ela não foi arrastada pelo seu chefe, nem
pela situação precária do seu casamento, tampouco pela necessidade de
declarar o direito da liberdade feminina. Como disse Tiago, ela foi
arrastada pela cobiça. Repare, ela não foi andando, ela foi arrastada.
Ela chegou até aquele motel, e a cobiça de saber se ela ainda era mulher
o suficiente na cama, talvez para aliviar sua consciência diante do seu
marido ruim, ou então a cobiça de ser amada, ou simplesmente a cobiça
de “gozar” acabou dando a luz ao pecado do adultério: uma bela e tórrida
tarde de sexo. Uma tarde tórrida, mas depois daquela tarde ela será
julgada e condenada, considerada indigna de ser mãe, mulher, esposa,
funcionária. Antes de ser taxada pelos piores nomes pela sociedade, ela
será taxada por ela mesma, pela consciência do certo e do errado que ela
tem em si.
Tá vendo? Nos dois exemplos acima,
tínhamos a consciência do certo e do errado. Tínhamos a lei, a regra.
Mas nada disso foi suficiente para nos livrar. Fomos arrastados e
seduzidos até o pecado, sem ao menos poder exercer o nosso direito de
escolha. Escravizados, como já disse aqui em capítulos anteriores.
Algemados e levados até o pecado.
E é assim que o jovem que tenta sair da
droga não consegue. É assim que o homem “mulherengo” não consegue mudar
de vida, mesmo sabendo que agora tem mulher e filhos. É assim que o
ex-presidiário acaba voltando para o crime, mesmo quando quer viver vida
nova. E é assim que até mesmo aquele renomado pastor não resiste ao
olhar para os cofres cada vez mais cheios da sua igreja, e acaba
cedendo.
Que guerra é essa! Sabemos o que é certo, queremos fazer o certo, mas ainda assim fazemos o errado!
Paulo já falava sobre isso em Romanos 7. Leia com atenção:
“Sabemos que a lei é espiritual; eu, contudo, não o sou, pois fui vendido como escravo ao pecado. Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, admito que a lei é boa. Neste caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando quero fazer o bem, o mal está junto a mim. Pois, no íntimo do meu ser tenho prazer na lei de Deus; mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros.” (Romanos 7, 14-23)
E Paulo, que era um dos maiores pregadores que já existiu falava isso dele mesmo. Ele, Paulo, olhava para si e via tudo isso.
E, após fazer essa análise, Paulo termina o capítulo com uma frase dura, se considerando miserável:
“Miserável homem eu que sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?” (Romanos 7, 24)
Que miserável que somos! Quem nos libertará do corpo sujeito a esta morte ?