Tentaram pôr, no coração de João Batista, o sentimento da inveja.
Durante o ministério de Jesus, enquanto o povo o seguia, os discípulos
de João o questionavam. No entanto, o profeta, negando a possibilidade
do ódio, respondeu:
A humildade representada nas palavras de São João Batista mostrava para quê aquele profeta viria. A finalidade da missão de João Batista não era a de dar glória a si mesmo, mas a de anunciar a Jesus Cristo. E essa missão, o próprio Jesus nos ensinou, exige a renúncia. “Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo” (Lc 9,23). Aquele que quer seguir a Jesus Cristo não pode fazer a própria vontade, tem que sofrer assim como ele o fez, tem que começar a buscar a perfeição em suas atitudes relacionando essa qualidade com a Lei de Cristo e não com a sua consciência. São Luís de Montfort, assumindo a voz de Cristo, proclama:Ninguém pode atribuir-se a si mesmo senão o que lhe foi dado do céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas fui enviado diante Dele. Aquele que tem a esposa é o esposo. O amigo do esposo, porém, que está presente e o ouve, regozija-se sobremodo com a voz do esposo. Nisso consiste a minha alegria, que agora se completa. Importa que ele cresça e que eu diminua. (Jo 3, 27-30)
“Se alguém, portanto, quiser me seguir tão humilhado e crucificado, deve
se gloriar, como eu, somente na pobreza, humilhações e sofrimentos de
minha Cruz. Renuncie a si mesmo. Excluídos estão da companhia
dos Amigos da Cruz o sábio mundano, os intelectuais e os céticos
vinculados a suas próprias idéias e inflados com seus próprios talentos”
(Carta aos Amigos da Cruz, 17).
Ninguém pode atribuir-se a si mesmo senão o que lhe foi dado do céu.
São João Batista quer dizer: ninguém fique procurando aumentar suas
glórias ou suas qualidades; ninguém queira ser o que não é. Não fiquemos
procurando aumentar a nossa imagem diante do mundo. Isso é inútil. Não
gera recompensa alguma. É possível inclusive fazer uma analogia com um
ensinamento do Mestre: Ele assinalava que, quando formos realizar boas
atitudes, não precisamos fazê-las na frente dos homens para que todos
vejam. “O Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á” (Mt 6,4).
João veio ao mundo para anunciar Jesus Cristo. Nada mais que isso. Ele
não buscou fazer de si uma imagem superior àquela que lhe foi dada.
Obedecendo a exortação paulina (cf. 1 Cor 7,17), permaneceu no estado em que o Pai o chamou. Ele ia falar. Mas as palavras não eram dele. Eram de Cristo.
A beleza do profeta está nisso. Ele não
anuncia, não promove a si mesmo, mas ao próprio Deus porque Este o
chamou para aquela missão. E interessante é que aquele não busca mais
missões. Pelo contrário, busca exercer com qualidade o chamado de Deus.
Não quer fazer muitas coisas ao mesmo tempo, pois sabe que ninguém pode atribuir-se a si mesmo senão
a missão que lhe é confiada. Por isso São João diz: Eu não sou o
Cristo. O profeta fiel não pode mentir. Não importa se o seu sucesso é
grande e se ele é seguido por muitos. Ele precisa assumir o compromisso
com a verdade da missão que Deus lhe deu. E ele não era
o Cristo. Por isso, quando os seus seguidores vêm lhe dizer que Jesus
está batizando muitos e coisas mais, São João sabiamente proclama:
“Importa que ele cresça e que eu diminua”.
Veja: João Batista veio justamente para
proclamar Jesus Cristo. Ele não podia exaltar a si mesmo. A sua missão
era a mesma que São Paulo exercia: “Eu vivo, mas já não sou eu” (Gl 2,20).
João Batista vive, mas não é ele. Nós vivemos, mas não somos nós. A
beleza do cristianismo é justamente essa: eu preciso renunciar a mim
mesmo, como Cristo, para que ele possa crescer em mim: “É Cristo que
vive em mim” (Gl 2,20). Se eu vivo em mim e Cristo também, então existe uma batalha
entre a minha vontade e a de Deus. O que eu preciso? Fazer crescer
Jesus e esquecer-me de mim. Importa que Jesus cresça. É essa aquela
batalha que São Paulo tanto falava em suas cartas: a carne contra o espírito. O meu espírito pode até estar pronto, mas a carne é fraca. É preciso orar
para que Jesus cresça, ou seja, meu espírito, que está sob o domínio do
Senhor, tenha vontade maior sobre as minhas atividades. E que a minha
carne se mortifique e sua vontade em mim diminua.
Aprendendo com São João, em nossa vida travamos essa mesma luta. Mas queremos sempre dizer com São Paulo: é Cristo que vive em mim.
Porém isso é difícil. Seremos provados. Temos que ser fortes.
Fortifiquemo-nos e façamos crescer em nós o espírito de Cristo.
Esqueçamo-nos de nós mesmos. Esse corpo, no qual vivemos, experimentará
corrupção. Preocupemo-nos, acima de tudo isso, com a nossa alma. Essa
irá ou para o céu ou para o inferno. Se Cristo em mim for maior,
desfrutarei da vida. Se não, desfrutarei da morte, da morte eterna.
Cuidemo-nos.