Estamos no período da
Quaresma, tempo litúrgico, em que a Igreja nos convida para um de exame
de consciência e conversão. Claro que todo tempo litúrgico é tempo de
conversão e não somente no período que se estende entre; a quarta feira
de cinzas e o domingo de ramos, mas este tempo, é para nós católicos,
mais forte ao clamor: " Completou se o tempo e Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho." (Mc
1,15) Mas toda ação e convite da Igreja, para este tempo, deve estar
permeado do desejo interior e sincero à busca continua do “novo homem”,
através de atitudes exteriores, que remetem à um interior convertido, a
conversão não é somente um processo de novos costumes, mas uma atitude
de vida, que vêm do interior.
“Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos”. (Tobias 12,8)
Todas
ás praticas, recomendas pela Igreja neste “tempo”, possuem um dimensão
de reconciliação, e busca continua do desapego, ao que feri a unidade do
ser com o Criador, e com as criaturas.
A
prática do jejum, abstinência do alimento, tão recomenda em diversos
trechos do AT e NT, e sempre aconselhado pela Igreja, como uma prática
de mortificação e piedade, com muitos frutos aos cristãos, é um conselho
à reconciliação consigo mesmo, tem a dimensão de nos educar e a sermos
“senhores” de nós mesmos. Esta prática deve esta permeada do sincero
apelo à mudança de vida, pois não se trata de somente uma atitude
exterior, pois seria condenável. “Passais
vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não
é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz." (Isaias 58,4) ou ainda “Sabeis
qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias
injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos,
e quebrar toda espécie de jugo.” (Isaias 58,6)
O
jejum tem como sua finalidade o desejo sincero de não sermos escravos
dos sentidos, mas em entender que existe um sentido maior, em tudo, e
que as paixões humanas não nos escravizam, pois buscamos o domínio de
nós mesmos, nos penitenciando.
De
que jejum estamos falando? Ficar sem comer? O jejum é mais do que o
deixar a refeição, ele tem como um ato concreto o não se alimentar, mas é
maior do que a privação do alimento, pois o fruto é a busca daquilo que
é imperecível, o Bem maior. Existem diversas formas de jejum, que
juntamente com a privação do alimento, são convites à conversão, pois,
ficar sem a comida e o único fruto disto, for à dor de cabeça, no final
da tarde, seria uma prática somente externa, é necessário o jejum
constante, o de sempre, daquilo que nos corrompe, nos impede o
seguimento e a proximidade conosco e por isso com Deus, no nosso
interior, no palácio Real do nosso coração
Oração
No
mesmo pensamento, a oração, tem um fundamento claro de reconciliação, e
esta é com Deus, na busca desta intimidade, este colóquio da criatura
com seu Criador. “Atende à oração e à súplica do teu servo, Javé meu Deus! Ouve o clamor e a prece que teu servo faz diante de ti.” (II
Cronicas 6,19) Com o auxílio de Deus a Igreja nestes séculos, tem
diversos mestres e santos, que nos ensinaram tanto sobre esta intimidade
com Deus, através da oração na busca da fonte que sacia toda a sede.
Nosso
Senhor em sua vida pública, foi mestre de oração e numa via continua de
busca da comunhão com Deus pai Criador, Ele mesmo sendo Deus como diz o
credo: “Creio em um
só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, unigênito do Pai,da substância
do Pai; Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro,
gerado, não criado, consubstancial ao Pai.” Quantas vezes não se retirava à oração; “Logo depois de despedir as multidões, Jesus subiu sozinho ao monte, para rezar. Ao anoitecer, Jesus continuava aí sozinho.” (Mt 14,23) e no Pai Nosso, nos ensina o fundamento de toda uma vida unitiva e orante com Deus. “Percorrei
todas as orações que se encontram nas Escrituras, e eu não creio que
possais encontrar nelas algo que não esteja incluído na oração do Senhor
(Pai Nosso)” (Sto.
Agostinho). A oração do Pai Nosso, ensinada por Cristo, está
fundamentada em 7 pedidos que convergem, todas as outras orações da
Igreja, e o número 7 nas Escrituras indicam, perfeição e plenitude.
“O Pai Nosso é a mais perfeita oração”. (Santo Tomás de Aquino)
Os pedidos da oração do Pai Nosso; 1o que seu nome seja glorificado, 2o que o seu reino venha a nós, 3o que sua vontade seja feita, 4° nosso pão de cada dia, 5o o perdão dos nossos pecados, 6o a vitória sobre as tentações e o 7o que
os livre de todo mal. Santa Teresa ligava os sete pedidos do Pai Nosso
aos títulos de Deus dados por nosso amor. No primeiro pedido ela o honra
especialmente como seu Pai; no segundo o adora como seu Rei; no terceiro o ama como seu Esposo, no quarto, onde se pede o pão de cada dia, reconhece Jesus como seu Pastor; no quinto como seu Redentor; no sexto como seu Medico; e no sétimo como seu Juiz. Podemos concluir que há diversos modos de meditarmos a oração ensinada por Cristo.
Todo o tempo pode ser dedicado a oração, podemos reserva um momento exclusivo, mas no ensinamento da vigilância: “Vigiem e rezem, para não caírem na tentação, porque o espírito está pronto, mas a carne é fraca”.(Mt
26,41) e como os padres do deserto, entenderam que todo o tempo é tempo
de oração, surgiu á devoção da oração bizantina, onde em todos os
momentos se pronunciavam, jaculatórias de invocação ao Senhor, a mais
comum era: – Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, tende piedade de
mim, pecador! Ou a invocação constante do nome de Jesus (Deus salva).
Pois nada nos impede de rezar em todo o tempo e lugar, é à busca desta
reconciliação constante com Deus e o pedido do auxílio da sua graça
sobre nós.
Quisera
poder em todos os momentos de oração, estar dentro de catedrais,
magníficas, ao som de belíssimos cantos gregorianos, sentindo o perfume
do incenso e arrebatados, em profunda comunhão aos mistérios de nossa
fé, mas nem sempre esta é nossa realidade e nem por isso podemos deixar
de estarmos vigilantes e atentos. "Ao
contrário, quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e
reze ao seu Pai ocultamente; e o seu Pai, que vê o escondido,
recompensará você."(Mt 26,41)
Esmolas
Este
convite de reconciliação, assim como na via do jejum nos reconciliamos
conosco, na oração com Deus e através da esmolas com o próximo, mas uma
via unitiva e de comunhão. “Dê
esmolas daquilo que você possui, e não seja mesquinho. Se você vê um
pobre, não desvie o rosto, e Deus não afastará seu rosto de você.” (Tobias 4,7)
A esmola é uma via de união com Deus através da virtude da caridade, em ato concreto. “Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade.” (1Cor 13,13)
Tanto
as Sagradas Escrituras, o Magistério e a Tradição sempre ensinaram de
forma eloqüente sobre o dar esmolas, como um ato de louvor a Deus e
reconhecimento de que tudo recebemos Dele. Santo Ambrósio nos diz que a
esmola é quase um segundo batismo e um sacrifício propiciatório que nos
faz obter graça diante de Deus. Diga-me que remorso no juízo para
aqueles que desprezam e caçoam dos pobres, quando Jesus Cristo lhes
mostrar que foi a Ele mesmo que injuriaram! (Mt 25)
Por
menor que seja a nossa oferta de esmolas aos pobres é a intenção que é
válida, mas sem perdemos a coerência naquilo que fazemos, se alguém te
pede uma esmola para almoçar e você dá 10 centavos, o que ela vai
almoçar com esse valor? Isso não é esmola. “Se a um irmão ou a
uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós lhes
disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der o
necessário para o corpo, de que lhes aproveitará?” (Tg 2,15-16)
Vemos,
que as atitudes de conversão, que o tempo de quaresma nos convida, de
jejum, oração e esmolas, não são uma quarentena anual, mas atitudes de
vida, de cristianismo, de catolicismo, não basta 40 dias por ano e sim
uma vida constante, neste tempo, é preciso reconhecer o quanto nos falta
e mudar!