sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Não permita que a discórdia semeie a divisão em sua vida

A divisão acontece quando não somos mais capazes de suportar as diferenças, porque queremos o mundo do nosso jeito, da nossa forma, da nossa maneira de pensar. Nós, muitas vezes, somos usados pelo mal e usamos o mal para semear a separação e a divisão no meio de nós.

”Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra” (Lc 11,17).


A Palavra de Deus, hoje, nos dá a condição para vermos a ação do demônio no meio de nós; melhor ainda: a ação do diabo, ele é o ”diabolus”, aquele que divide, separa; aquele que não é a favor do que é unido e estável. Ele dividiu o Reino de Deus, separando-se dos anjos que fizeram a vontade do Senhor; a missão do diabo no mundo é justamente esta: lançar a divisão e a separação.
Vivemos em um mundo dividido pela desigualdade, vivemos em um mundo dividido por limites geográficos, políticos e por tantas outras coisas. Mas a grande divisão não é esta, a grande divisão é aquela que está no fundo do coração humano, fruto do orgulho e da autossuficiência. Fato que leva, muitas vezes, o ser humano a acreditar que é melhor do que o outro, que é mais importante do que o outro e que pode mais do que o outro.
A divisão nos leva a nos acusarmos uns aos outros, colocando a culpa neste ou naquele e, então, não somos mais capazes de operar a conciliação e a reconciliação. Basta ver como se dividem nossas casas e nossas famílias; não estou falando de divergências e de diversidades de opinião e de expressões de vida, que são coisas saudáveis e maravilhosas, pois, na mesma casa, um pode pensar de um jeito, outro de outro; o marido pode ver de uma forma e a mulher de outra. Isso não é a divisão a que me refiro.
A divisão [causada pelo mal] é quando um se põe contra o outro, quando um não é mais capaz de conviver com o outro; quando não somos mais capazes de suportar as diferenças, porque queremos o mundo do nosso jeito, da nossa forma e da nossa maneira de pensar. Nós, muitas vezes, somos usados pelo mal e usamos o mal para semear a separação e a divisão no meio de nós.
A divisão, muitas vezes, tenta reinar na Igreja, na casa de Deus, por intermédio dos grupos e das lideranças que, muitas vezes, estão à frente de nossa Igreja. E já vimos muita coisa de Deus se acabar, se destruir, não porque Deus quisesse, mas por causa da divisão e da desunião humana. Já vimos esse mal em nossas casas, em nossas famílias; por isso, precisamos pedir perdão a Deus por todas as vezes em que nos deixamos levar pelo espírito da divisão, pelo espírito da discórdia e, por todas as vezes que somos levados por este mesmo espírito a semear a discórdia, a divisão e a separação no Reino de Deus e entre os irmãos.
Que Deus abençoe você!

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Igreja Católica e Maçonaria

A maçonaria tem uma origem difícil de ser comprovada. Alguns afirmam remontar ao tempo anterior ao dilúvio de um tal Jabal, construtor contratado por Caim e Enoch. Jabal ensinou uma arte secreta para trabalhar com lâminas de ouro. Esses conhecimentos chegaram a Abraão, por meio de quem seriam transmitidos aos egípcios. Estes os transmitiram aos Judeus, que alcançaram o seu apogeu na construção do templo de Salomão. Depois da destruição do templo, o conhecimento teria passado para os cristãos. Os depositários desses segredos seriam os "quatro santos coroados" e Santo Albano na Inglaterra, o qual com a ajuda do rei Athelstan os teria codificado.

A maioria dos estudiosos não aceita essa primeira origem, ela é considerada um tanto fantasiosa. Admite-se que a origem remota da maçonaria moderna (franco-maçonaria = pedreiros livres) desenvolveu-se a partir das organizações medievais que agrupavam arquitetos, mestres- de- obras e pedreiros, os quais, por construírem castelos e igrejas eram considerados espiritualmente nobres.

Tinham como meta construir a liberdade e a tolerância e o aperfeiçoamento da humanidade. Professavam a existência de um Principio Criador, sob a denominação de Grande Arquiteto do Universo.

A maçonaria, conforme é conhecida até os nossos dias, foi criada em 24 de junho de 1717, como a fundação da Grande Loja da Inglaterra. Surgiu da iniciativa dos pastores protestantes ingleses James Anderson e J. T. Desaguliers. No ano de 1723, Anderson elabora a primeira Constituição maçônica. A partir de então a maçonaria adotou uma forma de organização política que deveria conservar daí por diante.

Durante o século XVIII surgiram lojas na Europa e na América. Com o tempo os maçons tornaram-se anticlericais, sendo por isso, excomungados pela Igreja Católica (1738). Após a cisão que resultou na fundação do Grande Oriente, na França, em 1773, a maçonaria alcançou o apogeu, tendo importante papel nos acontecimentos da Revolução Francesa.

A maçonaria tem como principio professar as mais diversas religiões. Como no Brasil a grande maioria dos brasileiros é cristã, adota-se a Bíblia como livro da lei. Em outra nação, o livro que ocupa o lugar de destaque no Templo poderá ser o Alcorão, o Tora, o livro de Maomé, os Vedas etc., de acordo com a religião de seus membros.

Em 24 de abril de 1738, o papa Clemente XII escreve a encíclica IN EMINENTI, em que condenou abertamente pela primeira vez a maçonaria. A partir dessa palavra oficial da Igreja foi proibido aos católicos pertencer á maçonaria.

Nos séculos seguintes inúmeros papas confirmaram essa mesma posição por meio de diferentes documentos:

  • Benedicto XIV, Providas, 18 de maio de1751.
  • Pio VII, Ecclesiam a Jesu Chisto, 13 de setembro de 1821.
  • LeãoXII, Quo Graviora, 13 de março de 1825.
  • Pio VIII, Traditi Humilitati, 24 de maio de 1829.
  • Gregório XVI, Mirari Vos, encíclica, 15 de agosto de 1832.
  • Pio IX, Qui Pluribus, encíclica, 9 de novembro de 1846.
  • Leão XIII, Humanum Genus, encíclica, 20 de abril de 1884.
  • Leão XIII, Dall Alto Dell Apostólico, Seggio, encíclica, de 15 de outubro de 1890.


A encíclica HUMANUM GENUS, escrita por Leão XIII, é um das mais fortes e extensas no que diz respeito a indicar os erros da maçonaria e sua incompatibilidade com a doutrina cristã.O papa ensina, nessa encíclica, que a Igreja católica e a maçonaria são como dois reinos em guerra.
Entre os pontos principais apresentados por Leão XIII sobre os erros da maçonaria, destacam-se:
  • A finalidade da maçonaria é destruir toda ordem religiosa e política do mundo inspirada pelos ensinamentos cristãos e substituí-las por uma nova ordem de acordo com suas idéias.
  • Suas idéias procedem de um mero "naturalismo". A doutrina fundamental do naturalismo é a crença de que a natureza e a razão humana devem guiar tudo.
  • A maçonaria apresenta -se como religião natural do homem. Por isso afirma ter sua origem no começo da história da humanidade.
  • O conceito de DEUS é diferente daquele apresentado na Bíblia e na doutrina católica. Para a maçonaria, DEUS é um conceito filosófico e natural. DEUS passa a ser a imagem do homem. Por isso, não existe uma clara distinção entre o espírito imortal do homem e DEUS.
  • A maçonaria nega a possibilidade de DEUS ter ensinado algo.
  • Não aceita ser entendida pela inteligência humana.
  • A maçonaria estimula o sincretismo religioso, isto é, a mistura das mais diferentes crenças.
  • A maçonaria compara a Igreja católica a uma seita.

Em 1917, no antigo CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO (lei oficial da igreja), a maçonaria foi comparada explicitamente:
CÂNON 2.335: Pessoas que entram em associações da seita maçônica, ou outra do mesmo tipo que conspire contra a Igreja e a autoridade civil legítima, recebem excomunhão simplesmente reservada á Sé Apostólica.

Em 17 de fevereiro de 1981, a Sagrada Congregação para a doutrina da fé divulgou uma orientação para os católicos sobre a maçonaria, em que reafirma a posição tradicional da Igreja.

O Código de Direito Canônico atual, publicado em 1983, não fala de modo explícito da maçonaria, somente dá uma orientação geral contra esse tipo de associação:

CÂNON 1.374: Quem der nome a uma associação, que maquine contra a igreja, seja punido com justa pena; quem promover ou dirigir tal associação seja punido com interdito.

Por não falar da maçonaria, alguns católicos, pensaram que esse cânon não se aplicasse a ela. Surgiu um impasse: teria acabado a proibição para os católicos participarem das lojas maçônicas? Para esclarecer essa dúvida, em 26 de novembro de 1983, a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé publicou a Declaração sobre as Associações maçônicas, QUAESITUM EST:
"Foi perguntado se mudou o parecer da Igreja a respeito da maçonaria pelo fato de que no novo Código de Direito Canônico ela não vem expressamente mencionada como no Código anterior.

Esta Sagrada Congregação quer responder que tal circunstância é devida a um critério redacional seguido também quanto ás outras associações igualmente não mencionadas, uma vez que estão compreendidas em categorias mais amplas.

Permanece, portanto, imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçônicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem ás associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão. Não compete ás autoridades eclesiásticas locais pronunciarem-se sobre a natureza das associações maçônicas com juízo que implique derrogação de quanto foi acima estabelecido, e isto segundo a mente da Declaração desta Sagrada Congregação, de 17 de fevereiro de 1981"( cf. AAS 73,1981,pp. 240-241).

O Sumo Pontífice João Paulo II, durante audiência concedida ao subscrito Cardeal Prefeito, aprovou a presente declaração, decidida na reunião ordinária desta Sagrada Congregação, e ordenou a sua publicação.

Roma, da Sede da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, 26 de novembro de 1983.
Joseph Card. Ratzinger.
PREFEITO
Fr. Jérôme Hamer, O.P.
SECRETÁRIO.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Importa que Ele cresça e que eu diminua

Tentaram pôr, no coração de João Batista, o sentimento da inveja. Durante o ministério de Jesus, enquanto o povo o seguia, os discípulos de João o questionavam. No entanto, o profeta, negando a possibilidade do ódio, respondeu:
Ninguém pode atribuir-se a si mesmo senão o que lhe foi dado do céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas fui enviado diante Dele. Aquele que tem a esposa é o esposo. O amigo do esposo, porém, que está presente e o ouve, regozija-se sobremodo com a voz do esposo. Nisso consiste a minha alegria, que agora se completa. Importa que ele cresça e que eu diminua. (Jo 3, 27-30)
A humildade representada nas palavras de São João Batista mostrava para quê aquele profeta viria. A finalidade da missão de João Batista não era a de dar glória a si mesmo, mas a de anunciar a Jesus Cristo. E essa missão, o próprio Jesus nos ensinou, exige a renúncia. “Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo” (Lc 9,23). Aquele que quer seguir a Jesus Cristo não pode fazer a própria vontade, tem que sofrer assim como ele o fez, tem que começar a buscar a perfeição em suas atitudes relacionando essa qualidade com a Lei de Cristo e não com a sua consciência. São Luís de Montfort, assumindo a voz de Cristo, proclama:

“Se alguém, portanto, quiser me seguir tão humilhado e crucificado, deve se gloriar, como eu, somente na pobreza, humilhações e sofrimentos de minha Cruz. Renuncie a si mesmo. Excluídos estão da companhia dos Amigos da Cruz o sábio mundano, os intelectuais e os céticos vinculados a suas próprias idéias e inflados com seus próprios talentos” (Carta aos Amigos da Cruz, 17).
 
Ninguém pode atribuir-se a si mesmo senão o que lhe foi dado do céu. São João Batista quer dizer: ninguém fique procurando aumentar suas glórias ou suas qualidades; ninguém queira ser o que não é. Não fiquemos procurando aumentar a nossa imagem diante do mundo. Isso é inútil. Não gera recompensa alguma. É possível inclusive fazer uma analogia com um ensinamento do Mestre: Ele assinalava que, quando formos realizar boas atitudes, não precisamos fazê-las na frente dos homens para que todos vejam. “O Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á” (Mt 6,4). João veio ao mundo para anunciar Jesus Cristo. Nada mais que isso. Ele não buscou fazer de si uma imagem superior àquela que lhe foi dada. Obedecendo a exortação paulina (cf. 1 Cor 7,17), permaneceu no estado em que o Pai o chamou. Ele ia falar. Mas as palavras não eram dele. Eram de Cristo.

A beleza do profeta está nisso. Ele não anuncia, não promove a si mesmo, mas ao próprio Deus porque Este o chamou para aquela missão. E interessante é que aquele não busca mais missões. Pelo contrário, busca exercer com qualidade o chamado de Deus. Não quer fazer muitas coisas ao mesmo tempo, pois sabe que ninguém pode atribuir-se a si mesmo senão a missão que lhe é confiada. Por isso São João diz: Eu não sou o Cristo. O profeta fiel não pode mentir. Não importa se o seu sucesso é grande e se ele é seguido por muitos. Ele precisa assumir o compromisso com a verdade da missão que Deus lhe deu. E ele não era o Cristo. Por isso, quando os seus seguidores vêm lhe dizer que Jesus está batizando muitos e coisas mais, São João sabiamente proclama: “Importa que ele cresça e que eu diminua”.

Veja: João Batista veio justamente para proclamar Jesus Cristo. Ele não podia exaltar a si mesmo. A sua missão era a mesma que São Paulo exercia: “Eu vivo, mas já não sou eu” (Gl 2,20). João Batista vive, mas não é ele. Nós vivemos, mas não somos nós. A beleza do cristianismo é justamente essa: eu preciso renunciar a mim mesmo, como Cristo, para que ele possa crescer em mim: “É Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Se eu vivo em mim e Cristo também, então existe uma batalha entre a minha vontade e a de Deus. O que eu preciso? Fazer crescer Jesus e esquecer-me de mim. Importa que Jesus cresça. É essa aquela batalha que São Paulo tanto falava em suas cartas: a carne contra o espírito. O meu espírito pode até estar pronto, mas a carne é fraca. É preciso orar para que Jesus cresça, ou seja, meu espírito, que está sob o domínio do Senhor, tenha vontade maior sobre as minhas atividades. E que a minha carne se mortifique e sua vontade em mim diminua.

Aprendendo com São João, em nossa vida travamos essa mesma luta. Mas queremos sempre dizer com São Paulo: é Cristo que vive em mim. Porém isso é difícil. Seremos provados. Temos que ser fortes. Fortifiquemo-nos e façamos crescer em nós o espírito de Cristo. Esqueçamo-nos de nós mesmos. Esse corpo, no qual vivemos, experimentará corrupção. Preocupemo-nos, acima de tudo isso, com a nossa alma. Essa irá ou para o céu ou para o inferno. Se Cristo em mim for maior, desfrutarei da vida. Se não, desfrutarei da morte, da morte eterna.

Cuidemo-nos.

terça-feira, 3 de junho de 2014

QUANDO COISAS RUINS ACONTECEM


Antes de começar a ler este texto, dê um play neste video e vai ouvindo o que Deus acha de tudo isso, então, comece a ler o texto, enquanto escuta.


Uma das partes mais difíceis da vida cristã é o fato de que se tornar um discípulo de Cristo não nos torna imunes a provações e tribulações da vida. Por que um Deus bom e amoroso permite que passemos por coisas como a morte de uma criança, doenças e ferimentos a nós mesmos e nossos entes queridos, dificuldades financeiras, preocupação e medo? Certamente, se Ele nos amasse, Ele tiraria todas essas coisas de nossas vidas. Afinal, amar não significa que Ele quer que nossas vidas sejam fáceis e confortáveis? Na verdade, não, não significa. A Bíblia ensina claramente que Deus ama aqueles que são Seus filhos, e que todas as coisas "cooperam para o bem daqueles que amam a Deus" (Rm 8, 28). Então, isso deve significar que as provações e tribulações que Ele permite em nossas vidas fazem parte de tudo que coopera para o nosso bem.

... para que ninguém seja abalado por estas tribulações, porque vós mesmos sabeis que para isto, fostes destinados. (1 Ts. 3, 3)

... dizendo que, por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus ". (At 14, 2)


As Escrituras falam de três categorias principais de "dificuldades" para aquele que crê: 

1) disciplina, julgamento ou reprovação do Senhor; 
2) testes, provações, e sofrimento; e 
3) tentações ou ataques de Satanás. 

Então este problema atual é a mão do Senhor em repreensão direta, a provação de nossa fé prometida, ou será que estamos sendo enganados por Satanás? Nós deveríamos saber para podermos responder adequadamente. 

Bem-aventurado é o homem que suporta a provação, porque depois de aprovado, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam. (Tg 1, 12)

Pois vejamos o que dizem as escrituras:

Queridos amigos, não se surpreendam da provação dolorosa a qual estão sendo submetidos, como se algo estranho estivesse acontecendo com vocês. Mas, alegrai-vos por estarem participando nos sofrimentos de Cristo, de forma que você pode ser jubiloso quando a glória dele for revelada. ( 1 Pd. 4, 12-13)

Lembrem-se de como o Senhor Seu Deus os conduziu por todo o deserto nestes quarenta anos, para os humilhar e os provar de forma a saber o que estava em seus corações, se manteriam os seus mandamentos ou não. Ele os humilhou... para ensinar que o homem não vive só de pão, mas de toda palavra que vem da boca do Senhor. (Dt. 8,2-3)

Depois disso, Deus provou Abraão, e disse-lhe: “Abraão!” “Eis-me aqui”, respondeu ele. Deus disse: “Toma teu filho, teu único filho a quem tanto amas, Isaac; e vai à terra de Moriá, onde tu o oferecerás em holocausto sobre um dos montes que eu te indicar.” (Gn 22, 1-2)

Moisés disse ao povo: Não temam! Deus veio prová-los, de forma que Seu temor venha impedi-los de pecarem". (Ex. 20, 20)

Louvem ao nosso Deus, ó povos, deixem o som de seu louvor ser ouvido; ele preservou nossas vidas e impediu nossos pés de deslizarem. Pois tu, ó Deus, nos provou; o Senhor nos refinou como a prata. Nos trouxe à prisão e pôs fardos em nossas costas. O Senhor deixou homens montarem em cima de nossas cabeças; nós passamos por fogo e água, mas o Senhor nos trouxe para um lugar de abundância. (Sl.66, 8-12)

Então, pensem comigo...

Um homem faz uma coisa boa quando ele suporta dor, com uma consciência clara direcionada a Deus, mesmo que ele saiba que está sofrendo injustamente. Afinal de contas, não é nenhum crédito se você é paciente e suporta um castigo que você mereceu justamente! Mas se você faz seu dever e é castigado por isto e ainda pode aceitar tal coisa pacientemente, você está fazendo algo que vale a pena à vista de Deus. Realmente esta é sua vocação. Pois Cristo sofreu por você e lhe deixou um exemplo pessoal, de forma que você pudesse seguir Seus passos. Ele não era culpado de nenhum pecado... Ainda assim, quando foi insultado, ele não devolveu nenhum insulto. Quando ele sofreu, ele não fez nenhuma ameaça de vingança. Ele simplesmente entregou sua causa ao que julga razoavelmente. (1 Pd. 2, 19-23)

O sofrimento é o custo do discipulado, vejam:

"Se o mundo lhe odeia, lembre-se que me odiou primeiro. Se você pertencesse ao mundo, ele o amaria como a seu próprio... Lembre-se das palavras que eu lhe falei; "Nenhum servo é maior do que o seu mestre". Se eles me perseguiram, eles também o perseguirão". (Jo 15, 18-20)

Uma vez que Cristo sofreu dor física, você tem que se armar com a mesma convicção interior que ele teve. Ser livre do pecado significa sofrimento físico, e o homem que aceita isto gastará o resto de seu tempo aqui na terra, não sendo conduzido por desejos humanos, mas fazendo a vontade de Deus. 
(1 Pd. 4, 1)

Na verdade, todo aquele que quiser viver uma vida religiosa em Cristo Jesus será perseguido, enquanto os homens maus e os impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados. (2 Tm. 3, 12)

"... Na realidade, está vindo um tempo quando qualquer um que os mate pensará que está fazendo um serviço a Deus. Eles farão tais coisas porque eles não conheceram o Pai ou a mim. Eu lhes contei isto, de forma que quando o tempo vir, você se lembre de que eu os adverti..." (Jo 16, 2-4)


... mas alegre-se
... É verdade que neste momento, eu (Paulo) estou sofrendo... ainda assim eu me alegro, porque me dá uma chance para contribuir em meus próprios sofrimentos com algo para as dores incompletas que Cristo sofre em nome de Seu corpo, a Igreja. (Cl. 1, 24)

Não só assim, mas nós também regozijamo-nos em nossos sofrimentos, porque sabemos que o sofrimento produz perseverança; a perseverança, caráter; e o caráter, esperança. E a esperança não nos desaponta, porque Deus despejou Seu amor em nossos corações pelo Espírito Santo, a quem ele nos deu. (Rm 5, 3-5)

Eu creio que o que nós sofremos nesta vida nunca pode ser comparado à glória, que ainda não foi revelada e que está esperando por nós... (Rm 8, 18)

... em face ao sofrimento... não desperdice sua confiança; ela será recompensada ricamente. Você precisa perseverar de forma que quando você tiver feito a vontade de Deus, você receberá o que ele prometeu. Por que em um pouco mais de tempo, "Aquele que está vindo virá e não tardará. Mas o meu justo viverá pela fé. E se ele se desviar, eu não ficarei satisfeito com ele". Contudo, nós não somos desses que se desviam e são destruídos, mas dos que acreditam e são salvos. (Hb. 10:32,35-39)

Se, porém, padecer como cristão, não se envergonhe; pelo contrário, glorifique a Deus por ter este nome. Porque vem o momento em que se começará o julgamento pela casa de Deus. Ora, se ele começa por nós, qual será a sorte daqueles que são infiéis ao Evangelho de Deus? E, se o justo se salva com dificuldade, que será do ímpio e do pecador? Assim também aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem as suas almas ao Criador fiel, praticando o bem. (1 Pd. 4, 16-19)





 Sabe o que Jesus pensa disso ?

"Eu conheço as tribulações pelas quais vocês passaram, e quão pobres vocês são - entretanto vocês são ricos "! (Ap. 2, 9)

Não tenha medo do que você está a ponto de sofrer. Eu lhe digo, o diabo porá alguns de você em prisões para os testarem, e vocês sofrerão perseguição durante dez dias. Seja fiel, até mesmo ao ponto da morte, e eu lhes darei a coroa da vida". (Ap. 2, 10)

"Eu lhes digo, meus amigos, não tenham medo dos que podem matar o corpo e nada além disso. Mas eu lhes mostrarei a quem vocês devem temer: Tema aquele que, depois de matar o corpo, tem o poder para o lançar a alma no inferno. Sim, eu lhes digo, temam a ele". (Lc 12, 4-5)

"Porque você manteve meu mandamento de suportar tribulações, eu o manterei seguro na hora da tribulação que virá sobre o mundo inteiro..." (Ap. 3, 10)

domingo, 18 de maio de 2014

A Doutrina da Comunhão dos Santos


No Credo, a frase: "Na Comunhão dos Santos", vem após "Creio na Santa Igreja Católica", existindo uma boa razão para esta seqüência, porque uma é extensão da outra.
Todos os que estão no céu, canonizados ou não, isto é, os conhecidos e os desconhecidos, naturalmente participam da vida de Deus ainda mais diretamente do que nós. Assim, quando falamos da comunhão dos santos, não nos referimos simplesmente a ligação (comunhão) de um cristão com outro na terra, mas de nossa ligação com antigos membros da Igreja na terra e que agora estão no céu.

O Corpo Místico da Igreja é formado pela:
IGREJA MILITANTE, que somos nós, a
IGREJA PADECENTE, os que estão no purgatório e a
IGREJA TRIUNFANTE, os que estão no céu.
As almas que deixaram a terra e estão destinadas ao céu talvez tenham de se submeter à purificação no purgatório, antes que possam atingir sua meta. Estas também são santas, e estão em comunhão com o resto da Igreja.
Existe uma estreita ligação entre os membros da Igreja Militante e a maneira como as boas ações de um, beneficiam todo o resto.
São Paulo escreveu muito claramente sobre a importância do oferecimento de orações em benefício uns dos outros. Também é desta maneira que estamos em comunhão com a Igreja Triunfante. Os grandes méritos que os santos obtiveram, muito além das necessidades da sua própria salvação, fazem parte do tesouro da Igreja que pode ser aplicado em favor dos que ainda estão em luta aqui na terra.
Se, como diz São Paulo, nós na terra podemos orar em benefício uns dos outros com tal efeito, é evidente que os santos no céu, muito mais próximos de Deus do que nós podem orar e interceder por nós com poder ainda maior.
Existem fora da Igreja Católica os que fazem objeção a esta idéia. Eles dizem que Cristo receberá nossas preces diretamente e que é um desrespeito a Ele sugerir que precise de alguém para lhe levar os nossos pedidos. Isso, em parte, resulta de uma incompreensão.
Os católicos não acreditam que os santos, ou qualquer outra pessoa, tenham poder por si mesmo, porém somente na medida em que Deus lho dá. Também acreditamos que podemos, na realidade, aproximar-nos diretamente de Deus, como mostra claramente a principal oração da Igreja: a Santa Missa.
Mas lembramo-nos como Deus estava disposto a salvar Sodoma por amor de apenas dez homens justos, se os pudesse encontrar na cidade e como São Tiago tornou claro que as orações dos bons são do mais alto valor (Tg 5,16).
É uma questão de humildade acreditarmos que Deus ouvirá a prece dos pecadores mais facilmente quando forem apresentadas pelos seus amigos mais íntimos. Nossa comunhão com as almas do purgatório vem do fato de que por si mesmas elas nada podem fazer para terminar seu tempo de purificação. Seguindo a orientação da Bíblia de que "era um pensamento santo e saudável orar pelos mortos, para que fossem livres dos seus pecados" (II Mac 12,48), esperamos que nossas preces, e particularmente a Santa Missa possam ser aplicadas para abreviar seu tempo de purificação. E podemos ter certeza de que aqueles que chegaram mais depressa no céu, em virtude das nossas orações, não demorarão apagar sua dívida como membros da Igreja Triunfante.
Naturalmente, o maior de todos os santos é Maria, a mãe de Deus. Sua intimidade com seu filho dá a seus pedidos um poder que não é excedido por qualquer outra pessoa no céu. A Igreja a vê prosseguindo em sua grande colaboração na Redenção iniciada há mais de dois mil anos, pelas suas orações em benefício dos que ainda estão na terra. Se os santos, que também foram pecadores, conseguiram obter méritos extraordinários que podem ser aplicados a nós, quanto mais Nossa Senhora, que é livre de pecado.
Recorramos a Virgem Maria, para que, por sua intercessão e prece, vivendo nesta vida de Igreja Peregrina a comunhão com Seu amado Filho no Augusto Sacramento do Altar, o vivamos plenamente no céu, na majestosa Igreja triunfante.

Assim Seja! Paz e Bem!

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Quebrei minha penitência. E agora ?


A Quaresma é esse tempo litúrgico que antecipa todo o período da Semana Santa, da Morte e da Ressurreição de Nosso Senhor, do mistério Pascal. Então, é um grande tempo que a Igreja nos dá para que possamos preparar o nosso coração, viver verdadeiramente o tempo da Páscoa.

A Quaresma é um tempo de recolhimento para que possamos rever a nossa vida, rever até que ponto a nossa vida de cristão corresponde àquilo que Nosso Senhor nos pede. Ela serve para analisarmos se estamos verdadeiramente amando Deus sobre todas as coisas ou se outras coisas estão dominando o nosso coração. É um tempo de balanço geral em nossa vida, de pararmos, silenciarmos e refletirmos. É bonito como a Liturgia vai nos levando até isso por meio das leituras, das Missas de cada dia. A Liturgia nos conduz a fazermos essa experiência de rever a vida, de fazer dela uma vida diferente e poder entrar no tempo Pascal desejoso de uma vida nova. 

Escute essa música, enquanto lê o texto.
 


Não comer carne nem chocolate, não tomar refrigerante e não abusar das mensagens no celular. Mas do que vale tudo isso?

Vale para colocar Deus como o centro da nossa vida. Achei legal falar das mensagens no celular! Quanto tempo temos demorado nas redes sociais e quanto tempo temos nos dedicado a Deus? Coloque isso na ponta do lápis e você verá quem tem ganhado mais espaço na sua vida. Então, se o tempo do Facebook e do Watsapp têm sido maior do que o tempo que você reza, que se dirige a Deus, você vai entender quem está dominando a sua vida.

Todas as vezes que botamos freio em alguma realidade, principalmente no tempo da Quaresma, é para colocarmos Deus em um centro. Então, o que nós gostamos de comer não nos domina, o que assistimos não nos domina, o que ouvimos não nos domina, porque o nosso amor está todo para Deus.

Diz a Palavra de Deus que onde está o seu tesouro, ali está o seu coração. Infelizmente, muitas vezes, os nossos tesouros estão enterrados em solos que não são os do coração de Deus. Então, a Quaresma é esse tempo. Por isso vale largar o chocolate, o refrigerante, as mensagens, para poder fazer a experiência de colocar o Senhor como o centro na nossa vida. Vale a pena! Por este motivo, temos de recolocar Deus onde Ele deveria estar na nossa vida.

Na mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2014, ele fala sobre a miséria material, moral e espiritual. Ele finaliza dizendo: "Não nos esqueçamos de que a verdadeira pobreza doí. Não seria válido um despojamento sem essa dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem doí.

Nesta Quaresma, como podemos ajudar as pessoas que vivem a miséria material, moral e espiritual? Como seria a caridade nestes três âmbitos?


A miséria moral
é exercer a caridade com uma pessoa que está trilhando um caminho errado, é chamá-la a exercer um pouco da verdade, aconselhá-la e mostrar a ela que existe outra realidade. Por exemplo, se você conhece um amigo da faculdade que está trilhando um caminho de bebida, de alcoolismo, chame-o, gaste do seu tempo com ele para poder instruí-lo e, talvez, tentar tirá-lo dessa realidade de miséria moral.

A miséria espiritual
vai para o mesmo caminho. São pessoas que, às vezes, precisam de uma palavra, de um consolo ou aconselhamento. são pessoas que precisam ser ouvidas, precisam de alguém que se sente e as escute. É uma miséria espiritual, ou seja, ela tem a necessidade de alguém que reze com ela, que a assuma em oração. Nós podemos sanar a miséria espiritual dos nossos irmãos dando-lhes a nossa vida em oração, sentando com eles, rezando por eles.

A miséria moral e a espiritual estão muito relacionadas ao nosso tempo, à nossa vida. Mas existe a miséria material, sobre a qual o Papa está insistindo. Como a Igreja pensa as práticas da Quaresma: oração, jejum, penitência, caridade e esmola? A oração nos leva para Deus quando nos lançamos para Ele. Quando revemos, na nossa vida, tudo o que está em excesso, aí entra a necessidade de jejum e penitência. Mas se isso parar apenas na nossa vida, e não transbordar na vida do irmão, não tem valor. É aí que entra a caridade e a esmola.

A sintonia é perfeita, porque nós nos lançamos em Deus, avaliamos nossa vida e refazemos o nosso relacionamento com Deus. Refazemos as coisas, refazemos nosso relacionamento com os irmãos, com a caridade que ela pode se dar nesse sentido; de se dar tempo, mas também no sentido concreto material. 

Então, vamos para o exemplo: eu faço uma penitência de não tomar refrigerante, vou pegar essa que é uma bem simples, durante toda a Quaresma, aí você calcula, quanto eu gasto por dia com refrigerante. Ah, eu gasto dez reais de refrigerante por semana, eu transformo aqueles dez reais em esmola para uma família que precisa.

Este é o sentido da esmola, aquilo que a gente jejua e que gastaria algo, entregamos aos pobres. De ir ao encontro, de fazer um rateio, de chamar outras pessoas. Os seus dez reais, mais os dez reais de outro; porque não faz uma cesta básica para uma família que está passando fome? Então, temos um costume muito egoísta: Ah tá bom, vou ficar sem tomar refrigerante, vai me sobrar dinheiro. Não esse dinheiro não é seu e, sim do outro! É por isso, que a Igreja sempre nos propôs essas três realidades juntas. Porque elas nos lançam nos outros, elas nos lançam na realidade dos outro. Agora, uma realidade que fica fechada no meu relacionamento com Deus e, na minha vida de uma conversão interior e não transborda em amor por outro.

O Papa Francisco fala muito da cultura do encontro, de ir ao encontro do outro. Ela vai ser uma Quaresma estéril, sem fecundidade, porque ela vai ser igual a um tripé com o pé quebrado, ela não vai ficar de pé. Agora, se eu revejo o meu relacionamento com Deus com oração, revejo o meu relacionamento com as criaturas, com as coisas, com o jejum e com a penitência e revejo o meu relacionamento com meu irmão com a caridade, aí eu me coloco em uma Quaresma concreta. Pode ser alguém que você precise dar perdão, que você precise perdoar, que você precise ir ao encontro. Alguém que você vacilou com ela e, você precisa pedir perdão por este ato que fez. Isso tudo é maneira concreta de viver a caridade e de ir de encontro com essa miséria moral, espiritual ou real que, muitas vezes, as pessoas se encontram.

Como discernir qual penitência fazer?
Primeiro, a penitência quer nos fazer lembrar de algo, de uma mortificação da nossa carne, de uma mortificação dos nossos sentidos para nos lembrarmos do centro da nossa vida, que é Deus. Então, a penitência tem que ser algo que lhe custe. Por exemplo, não dá para fazer penitência de carne se eu prefiro frango; não dá para fazer penitência de uma coisa que eu não tenha como comer todos os dias. Todos os dias você come caviar? Não tem como você fazer penitência de caviar, sendo que você não come isso todos os dias, então, tem que ser algo que verdadeiramente você vá sentir falta. Por exemplo: "Ah, eu gosto muito de café!" Opá! Se eu gosto muito dessa bebida, isso vai me fazer falta. Então a penitência tem que ser algo que recorde você o ''para que'' você a está fazendo.

Se não resistirmos até o fim da penitência, vale a pena recomeçá-la?

Quaresma é um período que se estende por mais de quarenta dias; se formos colocar na ponta do lápis, dá mais de quarenta dias. Quedas, temos que lutar com todo o nosso coração, com toda a nossa alma, para não cair, mas se cairmos, devemos começar de novo e levantar, retomar, começar do zero! O que Deus vai ver é o seu desejo de cumprir aquilo e não verdadeiramente se somente você consegue ou não!

Claro, vai ser uma vitória até para você mesmo quando você chegar no fim dos quarenta dias com a graça de Deus você poder ter resistido. Vamos dizer que você faça penitência de refrigerante, por exemplo. Porque a penitência é diferente do jejum, vou deixar muito claro: a penitência é algo do qual você se abstém; o jejum é uma das refeições das quais você se abstém. Então, eu vou ficar sem tomar refrigerante – aí no domingo de Páscoa, você com aquela alegria: ''Fiquei esse tempo todo, agora vou com essa alegria celebrar''. É claro que você não vai tomar o refrigerante que você não tomou há cinquenta dias.

Mas caiu, começa de novo, retoma, peça perdão a Deus e começa do zero, assim como Deus faz em todas as nossas realidades.

No domingo também é preciso fazer penitência? O que a nossa Igreja diz sobre comer ou não comer carne nas quartas e sextas-feiras da Quaresma? É obrigatório?

Vale a pena explicar o que é jejum e o que é penitência. A Igreja, por tradição, tem os dias de guarda e por tradição as sextas-feiras são dias penitenciais, então, o dia de jejum. O que é jejum? Existe uma diferença clara entre jejum e penitência; existe o jejum da Igreja que é o mais simples. Existe um livrinho do padre Jonas, chamado: ''Práticas de jejum''. O jejum é justamente se abster de uma ou de todas as refeições, em vista de algo. Na sexta-feira como é a tradição da Igreja, é normalmente um dia de se abster de carne, quanto mais a sexta-feira da Quaresma, como a Quarta-feira de Cinzas, também é um dia que nos abstemos de carne, não comemos carne, então o jejum é nessa realidade. 

A penitência, como já disse, é algo que você retira, que pode ser algo de alimento ou pode ser algo de atitude. Você perguntaria, domingo é dia de jejum e de penitência, ou, não é? Domingo não é dia de jejum, mas a sua penitência você não precisa parar de fazer no domingo. Suponhamos que eu faça uma penitência quaresmal de não tomar refrigerante, imagina como seria fácil, se eu faço de segunda a sábado e no domingo eu encha a cara de refrigerante.

Como é uma penitência você pode levá-la até o fim da Quaresma. Agora jejum nós fazemos em que dia? A Igreja nos pede que o pratiquemos todas às sextas-feiras da Quaresma e, na Quaresma de uma forma geral, você o vai adaptando conforme a sua realidade e a sua saúde, como é que isso pode ser feito. Agora, domingo não é dia de fazer jejum, eu não posso domingo, por exemplo: "Ah! eu não vou almoçar porque meu coração está penitenciado". Lembremos: Nós fazemos memória, nós celebramos o tempo que Jesus passou no deserto, nós vamos celebrar a paixão, morte e ressurreição d'Ele, mas sem nos esquecermos de que Jesus Cristo está vivo. Então, domingo é dia de celebrar a ressurreição de Jesus, seja na Quaresma ou em qualquer realidade, por isso, domingo não é dia de jejum. Mas, não ''seja sem vergonha'', você não precisa ficar suspendendo a sua penitência nos domingos não! Você pode vivê-las, tanto no tempo da Quaresma como em qualquer tempo litúrgico. 

domingo, 30 de março de 2014

Exercícios da Quaresma

Estamos no período da Quaresma, tempo litúrgico, em que a Igreja nos convida para um de exame de consciência e conversão. Claro que todo tempo litúrgico é tempo de conversão e não somente no período que se estende entre; a quarta feira de cinzas e o domingo de ramos, mas este tempo, é para nós católicos, mais forte ao clamor: " Completou se o tempo e Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho." (Mc 1,15) Mas toda ação e convite da Igreja, para este tempo, deve estar permeado do desejo interior e sincero à busca continua do “novo homem”, através de atitudes exteriores, que remetem à um interior convertido, a conversão não é somente um processo de novos costumes, mas uma atitude de vida, que vêm do interior.

“Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos”. (Tobias 12,8)
Todas ás praticas, recomendas pela Igreja neste “tempo”, possuem um dimensão de reconciliação, e busca continua do desapego, ao que feri a unidade do ser com o Criador, e com as criaturas.
 Jejum

A prática do jejum, abstinência do alimento, tão recomenda em diversos trechos do AT e NT, e sempre aconselhado pela Igreja, como uma prática de mortificação e piedade, com muitos frutos aos cristãos, é um conselho à reconciliação consigo mesmo, tem a dimensão de nos educar e a sermos “senhores” de nós mesmos. Esta prática deve esta permeada do sincero apelo à mudança de vida, pois não se trata de somente uma atitude exterior, pois seria condenável. “Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz." (Isaias 58,4) ou ainda “Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo.” (Isaias 58,6)
 
O jejum tem como sua finalidade o desejo sincero de não sermos escravos dos sentidos, mas em entender que existe um sentido maior, em tudo, e que as paixões humanas não nos escravizam, pois buscamos o domínio de nós mesmos, nos penitenciando. 
De que jejum estamos falando? Ficar sem comer? O jejum é mais do que o deixar a refeição, ele tem como um ato concreto o não se alimentar, mas é maior do que a privação do alimento, pois o fruto é a busca daquilo que é imperecível, o Bem maior. Existem diversas formas de jejum, que juntamente com a privação do alimento, são convites à conversão, pois, ficar sem a comida e o único fruto disto, for à dor de cabeça, no final da tarde, seria uma prática somente externa, é necessário o jejum constante, o de sempre, daquilo que nos corrompe, nos impede o seguimento e a proximidade conosco e por isso com Deus, no nosso interior, no palácio Real do nosso coração
Oração

No mesmo pensamento, a oração, tem um fundamento claro de reconciliação, e esta é com Deus, na busca desta intimidade, este colóquio da criatura com seu Criador. “Atende à oração e à súplica do teu servo, Javé meu Deus! Ouve o clamor e a prece que teu servo faz diante de ti.” (II Cronicas 6,19) Com o auxílio de Deus a Igreja nestes séculos, tem diversos mestres e santos, que nos ensinaram tanto sobre esta intimidade com Deus, através da oração na busca da fonte que sacia toda a sede.
Nosso Senhor em sua vida pública, foi mestre de oração e numa via continua de busca da comunhão com Deus pai Criador, Ele mesmo sendo Deus como diz o credo: “Creio em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, unigênito do Pai,da substância do Pai; Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai.” Quantas vezes não se retirava à oração; “Logo depois de despedir as multidões, Jesus subiu sozinho ao monte, para rezar. Ao anoitecer, Jesus continuava aí sozinho.” (Mt 14,23) e no Pai Nosso, nos ensina o fundamento de toda uma vida unitiva e orante com Deus. “Percorrei todas as orações que se encontram nas Escrituras, e eu não creio que possais encontrar nelas algo que não esteja incluído na oração do Senhor (Pai Nosso)” (Sto. Agostinho). A oração do Pai Nosso, ensinada por Cristo, está fundamentada em 7 pedidos que convergem, todas as outras orações da Igreja, e o número 7 nas Escrituras indicam, perfeição e plenitude.
 “O Pai Nosso é a mais perfeita oração”. (Santo Tomás de Aquino) 
Os pedidos da oração do Pai Nosso; 1o que seu nome seja glorificado, 2o que o seu reino venha a nós, 3o que sua vontade seja feita, 4° nosso pão de cada dia, 5o o perdão dos nossos pecados, 6o a vitória sobre as tentações e o 7o que os livre de todo mal. Santa Teresa ligava os sete pedidos do Pai Nosso aos títulos de Deus dados por nosso amor. No primeiro pedido ela o honra especialmente como seu Pai; no segundo o adora como seu Rei; no terceiro o ama como seu Esposo, no quarto, onde se pede o pão de cada dia, reconhece Jesus como seu Pastor; no quinto como seu Redentor; no sexto como seu Medico; e no sétimo como seu Juiz. Podemos concluir que há diversos modos de meditarmos a oração ensinada por Cristo.
Todo o tempo pode ser dedicado a oração, podemos reserva um momento exclusivo, mas no ensinamento da vigilância: “Vigiem e rezem, para não caírem na tentação, porque o espírito está pronto, mas a carne é fraca”.(Mt 26,41) e como os padres do deserto, entenderam que todo o tempo é tempo de oração, surgiu á devoção da oração bizantina, onde em todos os momentos se pronunciavam, jaculatórias de invocação ao Senhor, a mais comum era: – Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, tende piedade de mim, pecador! Ou a invocação constante do nome de Jesus (Deus salva). Pois nada nos impede de rezar em todo o tempo e lugar, é à busca desta reconciliação constante com Deus e o pedido do auxílio da sua graça sobre nós.
Quisera poder em todos os momentos de oração, estar dentro de catedrais, magníficas, ao som de belíssimos cantos gregorianos, sentindo o perfume do incenso e arrebatados, em profunda comunhão aos mistérios de nossa fé, mas nem sempre esta é nossa realidade e nem por isso podemos deixar de estarmos vigilantes e atentos. "Ao contrário, quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu Pai ocultamente; e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você."(Mt 26,41)
 Esmolas
 Este convite de reconciliação, assim como na via do jejum nos reconciliamos conosco, na oração com Deus e através da esmolas com o próximo, mas uma via unitiva e de comunhão. “Dê esmolas daquilo que você possui, e não seja mesquinho. Se você vê um pobre, não desvie o rosto, e Deus não afastará seu rosto de você.” (Tobias 4,7)
A esmola é uma via de união com Deus através da virtude da caridade, em ato concreto. “Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade.” (1Cor 13,13)
Tanto as Sagradas Escrituras, o Magistério e a Tradição sempre ensinaram de forma eloqüente sobre o dar esmolas, como um ato de louvor a Deus e reconhecimento de que tudo recebemos Dele. Santo Ambrósio nos diz que a esmola é quase um segundo batismo e um sacrifício propiciatório que nos faz obter graça diante de Deus. Diga-me que remorso no juízo para aqueles que desprezam e caçoam dos pobres, quando Jesus Cristo lhes mostrar que foi a Ele mesmo que injuriaram! (Mt 25)
Por menor que seja a nossa oferta de esmolas aos pobres é a intenção que é válida, mas sem perdemos a coerência naquilo que fazemos, se alguém te pede uma esmola para almoçar e você dá 10 centavos, o que ela vai almoçar com esse valor? Isso não é esmola.  “Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará?” (Tg 2,15-16)
Vemos, que as atitudes de conversão, que o tempo de quaresma nos convida, de jejum, oração e esmolas, não são uma quarentena anual, mas atitudes de vida, de cristianismo, de catolicismo, não basta 40 dias por ano e sim uma vida constante, neste tempo, é preciso reconhecer o quanto nos falta e mudar!

sábado, 22 de fevereiro de 2014

A Santíssima Trindade e o dom de si

Invocamos a Santíssima Trindade cada vez que fazemos o sinal da cruz, que dizemos o Glória, o Credo. Estas são as primeiras palavras religiosas que são pronunciadas sobre nós ao batismo, estas serão as derradeiras que nos prepararão para passar à vida eterna.

Todavia, o dia da festa da Santíssima Trindade, instiga-nos a perguntar: porque este mistério de um só Deus em três pessoas, que parece-nos tão abstrato e enigmático, é o mais amado pelos contemplativos? 

Santo Agostinho e Santo Tomás respondem-nos: é por este ser o mistério supremo, que nos manifesta a vida intima de Deus em sua infinita fecundidade; é o objeto primordial da visão do céu, e se ele nos fosse plenamente desvendado, todos os demais mistérios, a Encarnação redentora, a Missão do Espírito Santo e a vida da Graça, seriam iluminados do alto e vistos em plena luz. Eles são, com efeito, irradiações da Verdade suprema e da Vida íntima de Deus três vezes santo.  

I. A fecundidade infinita da Vida Divina. 

Este mistério manifesta-nos primeiramente a fecundidade ilimitada de Deus Pai, que comunica a seu Filho a natureza divina e, por seu Filho, ao Espírito Santo. É o dom de Si, o mais perfeito que se possa conceber e a comunhão mais íntima. Ora, temos tanta necessidade de aprender este generoso dom de Si mesmo, sobretudo nas circunstancias dolorosas em que nos encontramos, na qual não encontramos o equilíbrio e a paz senão doando o que podemos: a verdade que liberta do erro e a bondade de coração que alivia os sofrimentos físicos ajudando-nos a sair da escravidão do pecado.
   
Se soubéssemos abrir os olhos, tudo nos convidaria ao dom de nós mesmos; na natureza, o sol dá seu calor e sua luz, a planta adulta dá a vida a uma outra, o animal a transmite aos seus filhotes e provê a sua subsistência; o artista que entreviu a beleza, quer exprimi-la; o pensador, que descobriu a verdade, quer divulgá-la; o apóstolo, que possui a santa paixão do bem, quer fazê-la nascer nos outros.
   
Em todos os graus da escala dos seres, vemos que o bem é por si difusivo, bonum est essentialiter diffusivum sui, diziam os antigos. E quanto mais elevada a sua ordem, mais se dá abundante e intimamente. Ele atrai para si, fortifica, enriquece, repousa.
    
Deus, que é o Soberano Bem, deve portanto ser soberanamente difusivo de Si, pois a bondade é essencialmente comunicativa.
        
Ele, que é o princípio eminente de todas as coisas, o centro de onde sai a vida da criação, contenta-se em dar o ser à pedra, a vida vegetativa à planta, a sensitiva ao animal, a inteligência ao homem? Contenta-se em dar e conservar aos justos a graça, participação de sua vida íntima?
        
Por que Deus não poderia comunicar além de uma participação de sua vida íntima, toda a sua vida, toda a sua natureza infinita? Por que isto seria impossível, se o bem é essencialmente comunicativo, e tanto mais abundante e intimamente quanto seja de ordem mais elevada? Quem pode indicar um limite para a difusão que o Soberano Bem pode fazer de Si mesmo?
        
Nossa razão e mesmo a inteligência natural do anjo mais excelso, deixadas a si, não poderiam responder com certeza a esta questão. Não poderiam provar a possibilidade da Trindade, menos ainda sua existência. Este mistério ultrapassa a esfera do demonstrável ou o alcance dos princípios de nossa razão.
        
Mas, a Revelação divina, já no Antigo Testamento, nos fez conhecer que Deus é Pai e que Ele diz, no instante único da imóvel eternidade: Filius meus es tu. Ego hodie genui te. Tu es Meu filho, hoje Te engendrei 1. O prólogo de São João nos diz: No inicio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus 2. Ninguém jamais viu a Deus, mas o Filho unigênito que está no seio do Pai é quem no-lo revelou 3. O próprio Filho prometeu-nos o Espírito Santo, no-lo enviou em Pentecostes, e fomos batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
        
A Revelação divina fez-nos conhecer assim a infinita fecundidade da vida divina através do mistério da geração eterna do Verbo, Filho de Deus, e pelo mistério da processão do Espírito Santo.
        
Esta fecundidade ilimitada, nós a veremos um dia a descoberto, e podemos entrevê-la na penumbra da fé, em nós, recordando, com Santo Agostinho, que nossa alma conhece a verdade e se doa por amor repousando-se no bem verdadeiro. Se purificamos de toda imperfeição esta “concepção da verdade” e este “élan do amor”, suspeitamos de longe alguma coisa do mistério supremo.
        
Na indigência de nossa vida intelectual, concebemos lentamente nossas idéias que permanecem sempre muito imperfeitas, e que são múltiplas porque cada uma delas permanece mui limitada. A linguagem humana não carece, entretanto, de profundidade, se falamos de concepção intelectual. A concepção é a geração inicial; mas, em nosso espírito, a concepção intelectual carece de vigor e de fecundidade; ela não chega a ser uma verdadeira geração. Por que? Porque cada um de nossos pensamentos sucessivos não é senão um acidente, e acidente fugidio, uma modalidade de nosso espírito; é preciso dizer o mesmo de nossas idéias: não são pessoas vivas como o sujeito pensante. É por isso que estamos sós com nossas idéias, não podemos entretermo-nos com elas; devemos, então, buscar contato com outras inteligências humanas, das quais, às vezes, muitas incompreensões nos separam.
        
Em Deus, ao contrário, o ato do pensamento não poderia ser um acidente, uma modalidade de seu Ser espiritual e infinito. Deus é o Pensamento sempre em ato, sempre subsistente, como um clarão de gênio genial eternamente subsistente. E se, como diz a Revelação, ele concebe um Verbo interior, o concebe não por indigência mas por superabundância. E este Verbo interior não é tampouco um acidente, uma simples modalidade do espírito de Deus, mas é substancial, vivo, inteligente, como o espírito que o engendra. Aqui a concepção intelectual chega verdadeiramente a uma geração intelectual, que é inteiramente perfeita no instante único da imóvel eternidade. Esta geração eterna dá ao Verbo ser Luz de Luz, Deus de Deus, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro 4. Ele é o esplendor da glória do Pai e a figura de sua substância, como é dito na Epistola aos Hebreus 5.
        
Este Verbo eterno, precisamente porque é soberanamente perfeito, porque exprime adequadamente, tão luminosamente quanto possível, a natureza divina, é único. É a imagem viva do Pai, é uma Pessoa como o Pai que lhe comunica toda a vida divina, guardando para Si apenas sua relação de Paternidade. O Verbo é mesmo tão perfeito, que em Deus não é mais perfeito engendrar do que ser engendrado; o ser do Filho não é causado, mas comunicado, é o mesmo ser do Pai que Ele, o Filho, recebe em Sua plenitude infinita. Assim, segundo uma analogia muito distante, a do triangulo eqüilátero, o segundo ângulo construído não é menos perfeito que o primeiro, que lhe comunica toda a sua superfície, sem se comunicar ele mesmo.
        
Por pobre que seja em nós a concepção intelectual, ela nos permite, porém, entrever de longe, à luz da Revelação, a geração intelectual que está em Deus.
 
* * *
 
Porém, como nossa alma, após ter conhecido a verdade, doa-se através de um élan do amor que tende a repousar no bem verdadeiro, assim o Pai e o Filho, por seu mútuo amor, são o princípio do Espírito Santo, a quem comunicam toda a natureza divina, sem a dividir, nem multiplicá-la, tão perfeitamente que não é mais perfeito ser o princípio desta processão ou seu termo. Assim, ainda no caso do triângulo eqüilátero, o terceiro ângulo, que procede dos dois primeiros, recebe toda sua superfície e é-lhes perfeitamente igual.
        
A amizade inefável das duas primeiras pessoas tem pois um termo, assim como o pensamento do Pai possui um termo. Este termo do amor é substancial, assim como o Verbo, termo da concepção; ele é vivo, inteligente e amante como o Verbo, e como ele é uma Pessoa, espírito das duas primeiras, seu vínculo, o Espírito Santo: como o Pai pode entreter-se com Seu Verbo, ambos podem se entreterem com o Espírito de amor. Eis a fecundidade infinita da vida de Deus desde toda eternidade antes da criação. É a mais absoluta difusão de Si; e, como o dom do Pai a seu Filho é soberanamente perfeito, o Filho é tão perfeito quanto o Pai e, pela mesma razão, o Espírito Santo lhes é igual 6
 
II. A comunhão das Pessoas Divinas.
 
 
Esta soberana difusão é o princípio da mais íntima comunhão, exemplar eminente da comunhão eucarística e mais ainda da união das duas naturezas em Jesus Cristo.
        
Esta comunhão é a mais estreita união de pensamento e de amor que se possa conceber. Três pessoas vivendo da mesma verdade infinita, não por três atos de pensamento, mas por um só e mesmo ato de pensamento, enquanto tantas incompreensões nos separam freqüentemente uns dos outros, porque cada um não vai ao máximo si mesmo. Três pessoas plenamente abertas, cada uma às outras, e não se opondo senão por suas relações mútuas, relações estas que ao mesmo tempo as une.
        
E, então, enquanto que tão freqüentemente se opõe o egoísmo à perfeita união das almas aqui embaixo, em Deus são três pessoas, que vivem do mesmo Bem supremo e infinito por um só e mesmo ato de amor, sem o menor interesse para Si. O Pai dá a seu Filho toda a sua natureza, o Pai e o Filho comunicam-na ao Espírito Santo. O Pai não se distingue de Seu filho senão por sua relação de paternidade, o Filho não se distingue do Pai senão por sua relação de filiação, e isto mesmo que os distingue, os une  relacionando-os uns aos outros.
        
O Espírito Santo não se distingue das duas primeiras pessoas, a não ser porque procede delas. Fora destas oposições de relações mútuas, tudo lhes é comum e indivisível. Esta é a mais íntima comunhão: a consubstancialidade, que acarreta a unidade de pensamento e de amor.
        
Temos disso um vestígio longínquo, porém ainda real, no símbolo do triangulo eqüilátero que não é suficientemente conhecido. Os três ângulos, embora possuindo a mesma superfície, são realmente distintos uns dos outros; eles são iguais; são essencialmente relativos uns aos outros e qualquer um dos três é tão grande quanto os três reunidos. Entre eles há uma ordem de origem, mas não prioridade de causalidade; do primeiro traçado procedem os outros sem que sejam causados por ele; ele lhes comunica sua própria superfície já existente, e eles não são em nada menos perfeitos que aquele. 
 
III. Este Mistério supremo esclarece do Alto todos os demais.
 
Se víssemos a descoberto a Santíssima Trindade, todos os demais mistérios apareceriam em plena luz. Veríamos a pessoa do Verbo feito carne que possui intimamente a alma e o corpo que ele tomou para nos salvar; ela os possui na unidade de um só e mesmo ser, de um só e mesmo eu que é, sem confusão das duas naturezas, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem.
        
Veríamos derivar da pessoa do Verbo a plenitude da graça criada, que faz do Cristo a cabeça da Igreja, a plenitude de luz, de glória, que lhe dá o mais alto grau de visão beatifica, a plenitude de caridade que se exprimiu no valor infinito de seus atos teândricos meritórios e satisfatórios e que se expande  ainda por sua intercessão sempre atual e na distribuição de todas as graças que nos são concedidas.
        
Se contemplássemos a descoberto a Santíssima Trindade, veríamos a união admirável das duas naturezas em Cristo, união substancial, hipostática, principio da união de suas duas inteligências e suas duas vontades, pois sua inteligência divina e sua inteligência humana se vêem uma à outra da maneira mais imediata e porque sua vontade divina e sua vontade humana estreitam-se na mais perfeita e indissolúvel conformidade.
        
Se víssemos o mistério supremo desvendado, veríamos em conseqüência qual é a missão invisível do Espírito Santo nas almas dos justos, como Ele os santifica e qual o valor das inspirações que lhes concede por seus sete dons, para conduzi-los segura e prontamente para a vida do céu.
        
O mistério da graça esclarecer-se-ia do mesmo modo. Nossa filiação adotiva nos apareceria como uma similitude da filiação eterna do Verbo. Veríamos então o sentido pleno e todo o alcance da palavra de São Paulo: Deus (nos) predestinou a ser conformes à imagem de seu Filho, a fim de que seu Filho seja o primogênito de um grande número de irmãos 7. Deus Pai tem um Filho único, a quem comunicou toda sua a natureza, para que ele seja “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”, e quis ter filhos adotivos, aos quais deu uma participação de sua natureza: a graça santificante, gérmen que se desenvolverá um dia em vida eterna, em visão imediata da essência divina e numa caridade que nada poderá mais fazer-nos perder, nem diminuir no que quer que seja.
        
Então, em cada alma bem-aventurada, Deus Pai continuará no instante único da imóvel eternidade, a engendrar seu Verbo e com Ele fazer proceder o Amor pessoal, “esta torrente de chamas espirituais” diz Bossuet, que os une na mais íntima comunhão 8.
        
Quanto mais nossa alma cresce na vida divina da graça, mais ela é uma imagem viva da Santíssima Trindade. No começo de nossa existência, o egoísmo faz que nós pensemos sobretudo em nós mesmos e que nos amemos referindo tudo a nós; porém, se somos dóceis às inspirações do Alto, virá um dia em que pensaremos sobretudo, não em nós mesmos mas em Deus e em que, a propósito de todas as coisas agradáveis ou desagradáveis, nós o amaremos mais que a nós e desejaremos levar constantemente as almas para Ele.
        
Finalmente nossa inteligência é convidada a repousar, como a de Deus, em Seu Verbo eterno, e nossa vontade no Amor pessoal que não cessa de atrair-nos a Ele, em meio às vicissitudes do exílio.
        
Mas para tal é necessário retornar sempre ao dom de Si do qual falávamos no começo. Por ele a alma se supera. A alma do viator, do viajante para a eternidade, não encontra seu equilíbrio e paz senão avançando, quer dizer, subindo em direção a Deus. Estando em viagem para Ele, não podemos ficar estacionados; se a vida da alma não ascende, ela descende; esta é uma lei para ela ascender como uma chama viva, até que ela regresse ao seu princípio, até que retorne “ao seio do Pai” de onde ela veio. A alegria de ser filho de Deus faz assim pressentir aquela que teremos ao vermos a descoberto o mistério supremo, nesse instante que não passará mais, o da eternidade.
 
Roma, Angélico.
 
(Artigo publicado em La Vie Spirituelen° 265, maio de 1942. Tradução: PERMANÊNCIA)