O ponto de partida para que possamos refletir, consiste em conseguirmos convencer o nosso coração de que o Espírito Santo é verdadeiramente uma Pessoa Divina. Teologicamente nós sabemo-lo; decoramos na catequese da primeira comunhão - o Espírito Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Mas entre sabermos e termos, de verdade, presente no nosso coração, como uma realidade concreta, existencial e vivida, vai uma longa distância!
Jesus é a primeira Pessoa; ninguém tem dúvida, quando vai ajoelhar-se diante do Sacrário, de que ali está uma Pessoa. O fato de que Jesus encarnou e tomou um corpo humano, facilita o nosso relacionamento íntimo com o Senhor.
Também em relação a Deus Pai, é-nos fácil perceber que é uma Pessoa Divina, por causa da palavra Pai. Este nome que Lhe damos, porque nos foi revelado que Ele é Pai, sugere-nos alguém de carne e osso que conhecemos na nossa vida, com quem convivemos e tivemos um relacionamento profundo, e isso psicologicamente favorece um relacionamento mais fácil com Deus Pai, e sentirmos que Deus Pai é realmente uma pessoa.
Mas em relação ao Espírito Santo não é assim. O próprio nome d’Ele - Espírito Santo - não nos dá a idéia de uma pessoa, bem como as Suas manifestações; por exemplo, no começo da Bíblia “o Espírito de Deus pairava sobre as águas”: pairava sobre as águas não nos dá a idéia de pessoa; pairar, o que é pairar? É claro que significa que Deus Pai criou toda a vida existente nas águas através da força do Espírito criador.
E na Anunciação? O Anjo disse a Maria: “O Espírito te cobrirá com a Sua sombra”. Sombra não transmite a idéia de pessoa.
No Batismo de Jesus, João Baptista disse: “Eu vi, por isso posso falar; o Espírito desceu sob a forma corpórea de uma pomba”. Uma pomba não nos evoca uma pessoa.
E em Pentecostes? Chamas de fogo, vento impetuoso, tudo isso não nos dá a idéia de pessoa. Quando os cristãos estavam reunidos numa casa, orando em favor da difusão do nome de Jesus, diz a Bíblia que a casa tremeu e ficaram cheios do Espírito Santo: essa força violenta, capaz de fazer um tremor numa casa, não é própria de uma pessoa.
Por isso temos alguma dificuldade inicial em percebermos, com o coração, que o Espírito Santo é realmente uma Pessoa. Mas sabemos quem Ele é; por isso, basta tomarmos a decisão de fazermos descer da cabeça ao coração que o Espírito Santo é uma Pessoa Divina, tal como o Pai e o Filho. Sendo o Espírito Santo a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, tem os mesmos atributos pessoais das outras duas Pessoas.
O Pai e o Filho existem, vivem, têm um nome e uma personalidade própria, amam, perdoam, compreendem e inspiram, movem e agem; assim, também o Espírito Santo existe, vive, tem um nome e uma personalidade próprios, é uma Pessoa distinta do Pai e do Filho. Ele ama e fala. Podemos ouvi-lo e também podemos falar, que Ele ouve. Ele perdoa e inspira, move, compreende, ajuda, questiona, consola e conforta.
Tal como as outras Pessoas, o Espírito Santo tem as Suas manifestações pessoais e habita. Obviamente que o Pai e o Filho também habitam, mas o Espírito Santo quis um lugar especial para habitar. Jesus ao ficar entre nós vivo e ressuscitado, quis usar um sinal visível da Sua presença, e sempre que quisermos ter a absoluta certeza de estar diante de Jesus vivo e ressuscitado, basta procurarmos a Eucaristia - o Sacrário.
O Espírito Santo não quis um sinal, quis um lugar. Sempre que quisermos encontrar o Espírito, basta entrarmos nesse lugar, que é o nosso coração. “Não sabeis que sois templos de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” Pergunta Paulo. E “ai daquele que destruir o templo de Deus”.
Nós somos templos vivos do Espírito, igrejas do Espírito, catedrais do Espírito, sacrário do Espírito, apartamento do Espírito. É um mistério fantástico, maravilhoso, que só abarcamos quando compreendemos a infinita misericórdia e bondade de Deus, que quis vir habitar nos nossos corações, para realizar em nós a Sua obra. Evidentemente que a presença do Espírito torna presente também o Pai e o Filho, por isso a Trindade “habita” em nós pela habitação do próprio Espírito Santo.
Imaginem que todas as vezes que olhássemos para um irmão que vem ter conosco, conseguíamos transfigurá-lo de imediato e ver nele a presença do Espírito Santo! Como não haveríamos de acolher, de amar, de ter paciência, de ter misericórdia e socorrer os irmãos.
Imaginem que cada vez que olhassem para uma irmã da comunidade, um aluno do vosso colégio, um enfermo do vosso hospital, um idoso do vosso asilo, uma criança da vossa catequese, pudessem transfigurá-lo e para além da figura encontrassem imediatamente o Espírito Santo.
Reparem como isso vos daria uma força, uma capacidade extraordinária para realmente tratar da melhor maneira possível todas as pessoas. Quando falo a casados, costumo dizer-lhes: imaginem vocês, maridos, se quando olhassem para as vossas esposas pudessem ver nelas o Espírito Santo! Como haveriam de tratar bem delas, de amá-las, de ser amigos, carinhosos e fiéis para com elas.
Como podem perceber, há nesta realidade uma espiritualidade fantástica, com conseqüências de busca de santidade e de caridade, para jamais magoar o Espírito Santo que habita no coração dos irmãos.