sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A renovação da catequese

Repetição nunca foi sinal ou prova de ortodoxia. Noutras palavras, quem quiser ser fiel à Igreja não precisa ficar o tempo todo repetindo frases da Bíblia, fórmulas dos concílios, expressões dos santos Padres, das autoridades, dos teólogos. O que representa conquista da teologia, da catequese, da liturgia, da história, da espiritualidade etc. merece ser conhecido, estudado, respeitado. Mas o que adianta a mera repetição?
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Podemos exemplificar. O mundo tem uma população que ultrapassa os 6 bilhões de habitantes. Os cristãos são calculados em torno de l bilhão e 300 milhões. Mesmo supondo que 2 bilhões de pessoas conheçam o cristianismo, ainda assim 2/3 da população mundial não entendem a linguagem cristã. Assim como muitos cristãos não entendem a linguagem muçulmana, judaica, budista, as religiões africanas ou indígenas, todas elas com milhões de adeptos.
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Até dentro de uma mesma nação as linguagens são diferentes. Por isso, todo esforço deve ser feito para que também a linguagem religiosa seja "traduzida", bem entendida. Desde João XXIII, os católicos aprenderam o verbo italiano aggior-nare, usado no contexto do Concílio Vaticano II: ele significa atualizar, tornar a mensagem cristã compreendida pelo homem moderno. De fato, quantas vezes a gente ouve um sermão de um bispo ou de um pároco ou uma aula de catequese que parecem grego...
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A catequese, por isso, deve se renovar, alargar seu próprio conteúdo, descobrir novas metodologias, utilizar as tecnologias contemporâneas, beneficiar-se dos avanços das ciências da comunicação, servir-se dos conceitos e imagens compreensíveis pelas crianças, pelos jovens e pelas famílias de hoje.
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Para que a renovação seja reflexo da vitalidade catequética, precisamos, porém, evitar toda improvisação, precipitação ou mesmo temeridade. A renovação não deve trazer confusão para as crianças e jovens ou para seus pais, a fim de não comportar desvios e ruptura da unidade da fé cristã. A Igreja soube renovar-se tantas vezes e deve continuar renovando a catequese para maior vigor da fé.
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QUE DESAFIOS AINDA EXISTEM PARAA RENOVAÇÃO DA CATEQUESE?
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A catequese não pára porque é um processo e, por isso, precisa estar sempre atualizada. O mundo muda, as comunidades mudam e a catequese precisa mudar, também. Destaco aqui alguns desafios nesta mudança:
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A) É importante optar definitivamente pela catequese com os adultos, como pede CR n.º 130 e como o propôs a 2ª Semana Brasileira de Catequese.
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Essa decisão, evidentemente, exige uma revolução em relação aos destinatários, conteúdos e métodos da catequese e em relação aos catequistas;
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B) Um segundo desafio na mudança se refere ao papel da linguagem na educação da fé. Ela já não prioriza tanto a linguagem filosófico-teológica do catecismo, mas ao traduzir os conteúdos da fé cristã, a catequese está aprendendo a falar com o homem e a mulher da modernidade e do mundo urbano, da cultura cibernética de hoje e com o homem secularizado que não tem mais aquele lastro da linguagem da Igreja.
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C) Um terceiro elemento bem desafiador é o todo complexo e rico mundo dos meios de comunicação social (MSC), que se tornaram a gigantesca escola do mundo moderno para informar e, também, para influenciar as mentalidades e os costumes. Como a catequese leva em conta este poder?
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D) Um quarto desafio continua sendo para a catequese a situação atual da família. Na crise em que está, ela não socializa mais os elementos básicos da fé cristã, o ambiente cristão, os costumes cristãos. As crianças e jovens chegam à catequese paroquial sem um preparo mínimo e nem sempre poderão contar com o apoio da família para o crescimento na fé.
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Ora sabemos que os pais são os primeiros e principais responsáveis pela vida, pela educação e pela fé dos filhos.
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A catequese com crianças e jovens tem de assumir, também, a catequese dos pais e aliar-se com a pastoral familiar e a pastoral de juventude.
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E) Um quinto desafio é a formação de catequistas. Contamos com o milagre de muita gente disposta e dedicada. Mas falta o preparo. Algumas escolas para formar catequistas têm resvalado para cursinhos de teologia, não levando em conta o específico da catequese: conteúdo ao estilo da catequese (Bíblia, doutrina, realidade), linguagem, metodologia, espiritualidade, pedagogia, psicologia, comunicação...
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F) E um sexto desafio é conseguir o envolvimento e a atualização catequética das várias pastorais e movimentos, dos padres, das editoras e dos elaboradores de materiais de catequese. Quem tem a liderança e quem coloca à disposição textos, vídeos e canções, precisa estar em sintonia com a renovação da catequese, caso contrário se estabelece conflito e confusão.
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G) Vejo ainda como desafio o aprisionamento da catequese aos sacramentos, no estilo de um cursinho em preparação a tal ou qual sacramento. Ora, a catequese é uma educação da fé, da esperança e da caridade e tem como objetivo ajudar o cristão a caminhar para a sua maturidade em Cristo, dando firmeza no seguimento de Jesus, no seu compromisso com a comunidade eclesial e no seu engajamento da missão de construir o Reino de Deus. Os sacramentos fazem parte deste processo, mas não são a meta, o ponto de chegada da catequese.
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