quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O que é amor e o que é paixão?

Muitos me perguntam qual a diferença entre amor e paixão, embora seja difícil de fazer essa separação, vou tentar aqui demonstrar o que é o amor, assim você poderá deduzir que, aquilo que não for amor, talvez seja paixão.
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Mas, na verdade, em que consiste o verdadeiro amor?
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Quando somos crianças, qual é o primeiro amor que conhecemos? É o amor de nossos pais. Depois o círculo social vai crescendo: temos os irmãos, os parentes, os coleguinhas, os vizinhos, os conhecidos. É assim que aprendemos as primeiras lições de como amar e ser amados: através do próximo.
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Aprendemos o valor de um sorriso, de um afago, de um abraço, da satisfação de uma necessidade corporal ou material, do aprendizado intelectual e moral; isso tudo desde a nossa mais tenra infância. E todas essas expressões, que podemos denominar "primárias", de amor, se estendem e se aprimoram durante a vida toda do indivíduo.
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Assim, desde o princípio de nossas vidas somos, uns para os outros, expressões de amor recíproco, o qual amadurece progressivamente até chegarmos a expressão mais perfeita de amor, que é o amor a Deus. Pois, como está em I Jo 4, 8, "Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor."
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Desde que nascemos, fomos amados antes de amar; primeiramente por Deus, que nos criou, e em segundo, pelos nossos pais e demais familiares. Aprendemos a amar, sendo amados; aprendemos a amar, como aprendemos muitas coisas na vida: por imitação.
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Infelizmente, muitos de nós não tivemos a fortuna de termos sido amados por nossos pais, ou tivemos na infância e/ou durante a vida, expressões imperfeitas de amor. Isso é o maior obstáculo na nossa caminhada de amor a Deus: a nossa incapacidade de amar.
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O amor é antes de tudo, uma ordem dada por Deus aos Seus filhos: "Amai a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo”.Isso não é uma sugestão, um conselho, uma teoria. É uma ORDEM.
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Então, quais devem ser os principais alvos do nosso amor?
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A primeira parte da frase diz: Amai a Deus sobre todas as coisas. E isso quer dizer muito. Nunca iremos compreender perfeitamente a profundidade desta frase, enquanto estivermos na terra. Mas para podermos entender como amar a Deus aqui na terra como Ele deseja ser amado, Jesus nos deixou uma dica valiosa: "Quem Me ama, obedece os Meus mandamentos."
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Curiosamente, os mandamentos do Senhor, se formos observar com atenção, não trazem nenhum "bem palpável" a Deus. Foram feitos, antes de tudo, para proteger-nos de nós mesmos. Se formos raciocinar bem, para Deus, por exemplo, em que mudaria guardarmos ou não a castidade?
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Em que afetaria a Deus obedecermos ou não a essa ordem, ou a qualquer uma das outras do Decálogo? Em nada. Deus é Deus. Não precisa de nós. Não precisa de nada do que é "nosso". Nós é que precisamos desesperadamente Dele. Mas Deus sabe que faríamos um grande mal a nós mesmos e aos outros, se nos entregássemos cegamente aos nossos instintos e vontades. Então, para mim, os Dez Mandamentos são a expressão mais perfeita da passagem bíblica que diz: "Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos Ele amado, e enviado o Seu Filho para expiar os nossos pecados." ( I Jo 4, 10)
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Podemos concluir, em última análise, que Deus, até na única prova de amor que nos pede, busca antes de tudo nos beneficiar. A profundidade do amor de Deus para conosco é algo que jamais compreenderemos perfeitamente. Agora, vejamos a segunda parte da frase: e ao próximo como a ti mesmo.
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Então, pressupondo-se que estamos tentando cumprir fielmente a primeira parte, amando a Deus, o que buscamos com mais ardor em nossa vida?Quem ama, quer estar com a pessoa amada. Quer ver o ser amado feliz. Quer fazer de tudo para contentar o amado. Isso é a definição que geralmente damos para "amor".
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Aplicando essa teoria em relação a Deus, o que buscamos em primeiro lugar? Estar com Deus. E estar com Deus plenamente, só o conseguiremos no céu. Ali O veremos "face a face". Em seguida, queremos contentar a Deus. Queremos vê-Lo feliz. E o modo de fazer isso, Jesus já nos ensinou: obedecendo aos Seus mandamentos. Assim sendo, nos esforçaremos para cumprir corretamente os preceitos da Lei de Deus, não por amor a nós mesmos, buscando algum tipo de vantagem, mas por amor a Deus. Para vê-Lo feliz, porque O amamos.
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Se eu amo verdadeiramente a Deus, se eu quero estar com Ele, se eu quero agradá-Lo, a minha maior alegria está nesta caminhada diária com Deus. E quem se esforça para viver isso de todo o seu coração encontra nisso a sua maior felicidade, como o demonstra a vida dos santos.
Então, podemos concluir que: se eu amo o próximo como a mim mesmo, vou querer principalmente que ele sinta esta mesma felicidade que eu sinto ao buscar a Deus, e que compartilhe deste amor, e no fim de sua vida, esteja comigo e com Deus no céu, na felicidade eterna. E como fazer isto?
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A princípio, podemos objetar que esse amor a Deus é, primeiramente, obra da graça. Pois está também, na bíblia, em Mateus 11, 27: "Todas as coisas me foram dadas por meu Pai; ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-lo."
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Então, certamente o desejo por Deus, é, primeiramente, obra divina. Pois aí já começamos a provar o amor por nosso próximo: orando por ele, para que Deus lhe infunda no coração mais desejo de amá-lo. Porém, apesar da oração para conversão do próximo ser algo fundamental, sabemos que Deus generosamente dispensa esta graça a todos. O desejo de Deus é intrínseco da natureza humana. Então, nosso amor pelo próximo não consiste apenas em orar por ele para que ele ame a Deus, pois como podemos amar a quem não se conhece? Aí entra a segunda e não menos importante parte da nossa aventura de amor pelo próximo: a evangelização.
Evangelizar não é apenas "falar" de Jesus, distribuir bíblias, terços, mandar ir à missa. Isso é extremamente necessário, porém ainda é pouco diante do que o verdadeiro amor nos leva a fazer.
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Pois é aí que entra a segunda parte da nossa evangelização, após a oração intercessora: temos que ajudar o próximo a amar. E como amor também se aprende por imitação, são os nossos exemplos, muito mais do que nossas palavras, que ensinam o nosso próximo a amar.
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E quem é o nosso próximo? Jesus também vem em nosso socorro, e nos ensina, em Lucas 10, 25 - 35:
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"Levantou-se um doutor da lei e, para pô-lo à prova, perguntou: Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna? Disse-lhe Jesus: Que está escrito na lei? Como é que lês?
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Respondeu ele: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu pensamento (Dt 6,5); e a teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18).
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Falou-lhe Jesus:
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Respondeste bem; faze isto e viverás.
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Mas ele querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo?
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Jesus então contou: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de ladrões, que o despojaram; e depois de o terem maltratado com muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o meio morto. Por acaso desceu pelo mesmo caminho um sacerdote, viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, chegando àquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; colocou-o sobre a sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: Trata dele e, quanto gastares a mais, na volta to pagarei. Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?
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Respondeu o doutor: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Então Jesus lhe disse: Vai, e faze tu o mesmo.
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Então, podemos dizer que é nisso que consiste, em uma primeira análise, o amor a Deus e ao próximo.
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Evidentemente que este desapego de si em favor dos outros é uma árdua jornada que leva a vida toda, e há muitos aspectos a considerar, pois se amar é um aprendizado constante, onde ensinamos e aprendemos uns com os outros, não podemos nos concentrar apenas nas expressões materiais de amor ao próximo. Além de repartir o pão, o carinho, o afeto, é sumamente necessário nos aprimorarmos sempre, moralmente e intelectualmente, para nós e principalmente para os outros; devemos compartilhar a Palavra de Deus, os ensinamentos da Igreja, as instruções de ordem moral, enfim, o "ensinar a pescar", todos juntos, para que as luzes do amor de Deus se multipliquem entre nós, de cada um ao seu próximo e assim irem se espalhando entre todos os seres, para que um dia, todos nós possamos estar unidos eternamente em Deus.
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Isso é amor. É amor que resgata as almas, mesmo as mergulhadas no maior abismo.

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